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Nova cruzada moral e caça às bruxas: o pixo em Belo Horizonte

Imagem do Blog Mene Lick 2o Ato

“Mais quantas gerações de jovens ainda vão escalar paredes como bichos e inventar sua própria língua, para nos dizer que sim, são gente? Fernando de Barros e Silva, Folha de São Paulo

Mudança de orientação em termos de política pública?

Para alcançar a meta de tornar Belo Horizonte uma “cidade sustentável”, a atual Administração Municipal de Belo Horizonte tem, entre suas diversas estratégias, e com o apoio de um promotor do Ministério Público Estadual, o enquadramento de jovens pixadores por crime de “formação de quadrilha”, o que os faz aguardar julgamento em presídio, por tempo indeterminado. Se não é esta a intenção, é o que está de fato acontecendo. Ou o que se pretende que aconteça.

Basta citar o exemplo que vimos denunciando neste blog, o de um grupo de jovens pixadores,  autointitulados Piores de Belô, que foram autuados e presos por 117 dias, até que se iniciasse o julgamento. Por decisão do juiz na primeira audiência, os jovens retornaram aos seus lares para passar Natal e Ano Novo com as famílias, aguardando a continuidade do julgamento em liberdade.

Concluiu-se que os jovens atuavam em “bando”, logo, em “quadrilha”. Daí, mudar o enquadramento para o Artigo 288 do código penal, foi um passo. Torna-se evidente a perversidade desta estratégia, cujo objetivo é realmente o “recrudescimento da repressão”, segundo a expressão utilizada pelas autoridades. Ora, como os adolescentes e jovens vivem em grupos, seja para brincar, jogar, aprender sobre a vida, a utilização do recurso cai como luva na intenção de utilizar a penalidade máxima disponível!

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Fire! Fire! Fire! O revide da multidão conectada

Quando vi a conta do Twitter intitulada Operation Payback disparar Fire! fire! Fire! weapons! – direcionando todos ao endereço de uma grande empresa de cartões de crédito, fiquei tomado de uma emoção surpreendente. Estava observando, ao vivo, o revide dos “piratas vingadores”, segundo a expressão de Umberto Eco. A operação “dar o troco”, surgida num coletivo de ativistas online autointilulados Anonymous, definiu-se como um repúdio ao cerco que o Departamento de Estado dos EUA, juntamente com outros governos, fizeram ao site WikiLeaks. Dedicado ao jornalismo livre e investigativo, o site havia publicado documentos secretos, reveladores de como os poderes estão se relacionando com os seus cidadãos.

É importante lembrar que a Operação Payback não teve por objetivo a destruição da infraestrutura das empresas atacadas. Eles derrubaram símbolos, ou seja, apenas tiraram as páginas do ar. A meta é levantar o cerco ao WikiLeaks e chamar a atenção para o problema.

Como é possível que, em pleno século XXI, quando qualquer oposição e resistência ao capitalismo e aos poderes parecem inócuas, pode surgir uma modalidade de resistência, baseada na internet, que se utiliza da força produtiva liberada por esse mesmo capitalismo?

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Jorge Mautner: poética e política do ser

“…Mas a noite é escura/e o caminho é tão longe/que me leva à loucura/andando e dançando/no fio da navalha/eu sou um faquir/um palhaço/e um grande canalha/teu olhar pontiagudo/me crava como punhal/quero saber de tudo, tudo tudo tudo /antes do carnaval…”

Outro dia deparei-me no Youtube com Estrela da Noite, de Jorge Mautner. Uma das mais belas criações desse compositor, cantor, poeta, filósofo  e, como ele mesmo diz, “profeta do Kaos”. Mautner já trabalhava, aqui, a canção longa, quase uma narrativa, que era praticada também por Jorge Ben, Caetano e Gil. Uma ruptura com a música ligeira, introduzindo a duração e, ao mesmo tempo, um caráter mais nômade, abrindo uma série de paisagens.

Caetano Veloso lembra que Maunter foi um precursor do Tropicalismo. O que não deve ser entendido em termos de uma identidade,  de uma semelhança, ou ainda de uma causalidade. Mautner foi precursor do movimento pela singularidade, diferença e intensidade de sua própria trajetória.    

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Ativismo e Análise Política Filosofia Geral Micropolítica Sobrevivência: estratégias

Do CrazyHorse 18 ao exercício micropolítico

Imagem vista do CrazyHorse 18, antes de executar jornalistas da Reuters

Um helicóptero Apache dos EUA, intitulado CrazyHorse 18 (Cavalo Doido 18) ataca um comboio de insurgentes no Iraque. Dois homens conseguem sobreviver, correm e se rendem, largando as armas. O helicóptero mantém os homens sob mira, e os tripulantes ligam para a base e pedem orientações. O rádio dá o retorno: “Nosso advogado diz que eles não podem se render para uma aeronave. Ainda são alvos válidos’’. Então, os tripulantes disparam aquela metralhadora que perfura até blindados.

Esta notícia, retirada do FolhaPress (23.10.2010), é parte de um dos inúmeros relatos dos documentos da Guerra do Iraque, revelados pelo site Wikiliaks.org. A denúncia é importante e está colocando o Império em cheque: uma guerra estúpida, levada a cabo pelo presidente Bush e seu comparsa Tony Blair. Porém, quero chamar a atenção para outro aspecto: a forma-função do Estado e sua lógica totalizante e implacável. CrazyHorse18 esteve, antes, envolvido na morte de dois jornalistas nessa guerra, entre outros ataques fatais a civis (veja o link para o vídeo, mostrando o helicóptero abrindo fogo sobre os civis, em Mais Referências).

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O graforisco: pixo, poesia do acaso e política pública

” (…) na transversal da cidade PALAVRAS-OBJETOS-COISAS que são também as EMOÇÕES OBJETOS/ABJETAS estampadas nos muros, casas, muretas. para quem quiser e/ou mesmo não quiser ver. (…) sair na calada da noite – PIXAR-PIXANDO – como se a rebelião estivesse no fato de buscarmos um outro sentido das palavras.” Cristina Fonseca, in A Poesia do Acaso – na transversal da cidade.

A escritora, poeta e videoartista, Cristina Fonseca, publicou A Poesia do Acaso em 1981. De lá para cá, o livro conserva o momento e o contexto de sua criação e, ao mesmo tempo, permanece atual, principalmente nessa discussão sobre o estatuto do pixo nas grandes cidades.

Uma discussão urgente, tendo em vista que, em Belo Horizonte, as autoridades municipais decidiram que os jovens pixadores devem ser enquadrados não mais na lei de “crime ambiental”, mais branda, mas como “formação de quadrilha”. Como denunciamos num artigo anterior (Pixo: criminalização ou política pública?), os jovens aguardam julgamento por tempo indeterminado, misturados com criminosos de toda espécie.