O tempo dos corpos nos escapa quase sempre. São raras as vezes em que nos permitimos ou sustentamos, um pouco mais, mais um pouco, viver o tempo como duração, num fluxo contínuo em variações de si.
A imagem de Joseph Beuys, performando o que chamou de Ação no Pântano, me faz pensar essa travessia de uma duração. O instante fotográfico congela – retrata um momento dessa poética. Momento que não vi, mas cuja fimagem me remete a duas linhas: a do tempo daquele corpo naquela travessia e a do tempo de quem observa – ou fotografa.
E sempre o exercício de tentar a captura desse momento fugidio – o do tempo dos corpos. A fim de deixar que o espaço mental que lhe corresponde se instaure, respire.
Há uma espécie de regra de convivência, diria de gentileza, que é a de esperar que a pessoa de nossa companhia, ao descer do carro, possa entrar segura em casa. Mas esta ação de espera costuma ser apenas protocolar. O tempo de nossos corpos – o que espera e o que age saindo de nosso campo de visão – não expande o campo mental dessa experiência. A duração não se instala.
Um dos exercícios a que me dou, cotidianamente, é a de permitir que o tempo dos corpos – uma certa duração – possa ser vivido. Normalmente, nas despedidas em que algum afeto está em jogo, espero que a outra pessoa desapareça do meu campo visual. E então me permito ficar em silêncio e quietude com o que se esvai – e com o vazio deixado.
Exercício performativo, porque acontece juntamente com meu corpo e o tempo real da ação, ali no dia a dia.
E outro exercício, na linha dessa poética cotidiana, é aquela em que me proponho a interromper o movimento ou atividade subtamente, mas sem rompante, ainda dentro do contínuo como variação de si, antes que se cumpra o objetivo, implícito ou explícito. Pois que esse é um dos segredos dessa poética ao modo da ação: subtração dos fins para que os meios possam ser mais do que meros intermediários, e sim mediadores. Um espaço mental se abre.
Temos, aqui, três linhas possíveis de experimento com a duração: a) observar um corpo agir ou não agir; b) esperar um corpo desaparecer do campo visual; c) subtrair os fins das ações, a fim de surpreender o corpo – ele, que afinal surpreende o tempo todo.
Esses três exercícios fazem parte dos repertórios poético-performativos em experimentação.