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Intervenção urbana: violência, arrogância e despreparo da Guarda Municipal

Leandro Lara e Sitaram Costa em Olho da Rua

 

As ruas têm dono

Não bastasse a última postagem, intitulada  de A criminalização da cultura das ruas, em Belo Horizonte, temos de denunciar o modo como a Guarda Municipal trata artistas e pessoas comuns (pois, como poderão ver, é disso que se trata afinal). Os performadores da intervenção urbana Olho da Rua foram tratados com arrogância e violência, como relato a seguir.

Uma coisa é certa: as ruas têm dono. E todo cuidado é pouco, pois ele costuma primeiro bater, para depois perguntar.

Desterritorializações no asfalto e calçadas

A intervenção urbana Olho da Rua opera numa interface entre teatro físico e performance. Três aspectos principais podem ser destacados: a ressignificação dos espaços públicos, os estados corporais e o diálogo possível com as pessoas, objetos, presenças e arquitetura urbana. Utilizamos elementos de composição no instante e imagens-partituras trazidas para serem desterritorializadas no asfalto e calçadas. Exploramos uma zona de indeterminação entre o “corpo artista” e o “corpo comum” do transeunte. A expressão “olho da rua” é o motivo e a guia da ação: tanto no sentido dos “olhares da rua”, de seus múltiplos e rizomáticos enfoques, quanto no sentido de ser atirado na rua. 

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Um corpo que faz mapa: iluminações avulsas I

 

 

 

 

 

 

Como o corpo se faz num fenômeno de borda e produz uma cartografia?

Há corpos que não passaram por qualquer formação artística e que, no entanto, vivem estados de poesia. Estão fora dos regimes de significação habituais, constituindo antes fenômenos de borda.

Vejo um senhor negro que aguarda no ponto de ônibus, logo na subida da favela. É começo de noite e as pessoas se deslocam pesadas, de volta do trabalho para casa. O  homem que observo é pobre. Porém, ele  se veste com dignidade (é preciso dizer disso numa paisagem como a nossa, brasileira): camisa branca e social, calça e sapato. Contudo, percebo logo que seu trajeto não cumpre a função das outras pessoas que posso observar naquele horário, como a volta do trabalho para casa ou qualquer outra, mas está numa borda que eu não consigo definir.  

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Kazuo Ohno: uma homenagem

"Dancing in Kushiro Marsh" IV (1994), by Eikoh Hosoe.

Kazuo Ohno encantou-se no dia 01.06.2010.  Tive a oportunidade de assistir a uma performance de Ohno em 1992, em Belo Horizonte. Eu não possuía qualquer informação prévia sobre o  butô.  Com um longo vestido que se arrastava pelo chão, um giro de Ohno no espaço demorava um tempo enorme. E esse movimento quase parado abria paisagens, janelas e visões a cada momento. Impressionante: a extensão é intensiva. Um corpo que esculpe o tempo e produz uma duração.

Tomo a liberdade de traçar, a partir das imagens de Ohno, linhas a-paralelas. Ou seja, sem encontrar correspondências biunívocas. Busco, para tanto, algumas idéias do filósofo José Gil (2). Ele fala de atmosferas, nuvens corporais, pequenas percepções:

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Arte e Cultura Artes Cênicas Ativismo e Análise Política Filosofia Geral Micropolítica Sobrevivência: estratégias Zonas Experimentais [ZnEx]

Um ativismo performático e teorético

Teoria é teoria e prática é prática. Correto? Nada disso, estas duas categorias já não se distinguem mais assim. No projeto Les Laboratoires D’Aubervilliers (França) pelo menos, esses dois planos se atravessam.  Les Laboratoires é uma residência artística voltada para a pesquisa e a experimentação, numa perspectiva que conecta corporalidade, cena contemporânea, pensamento crítico e criativo,  performance e dança.

Les Laboratoires desenvolvem projetos de pesquisa em residência, na França, nos arredores de Paris, numa localidade intitulada D’Aubervilliers. Um dos projetos acolhidos pelos Laboratoires é de um grupo de pesquisa teórica e artística, de Belgrado, que  realiza ações no campo da ” performance contemporãnea, através da produção de textos, autogestão, educação crítica e engajamento através da prática cultural” . O grupo intitula-se (na vesão em inglês): Walking Theory. E o projeto desenvolvido tem por nome How to do things by theory – a platform for performing theoretical activism – 2010/2012. Há uma clara alusão à obra do filósofo analítico Austim, How to do things with words, um dos textos fundamentais sobre a questão das relações entre linguagem e performatividade.

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Entre estética e política: O Conjunto Vazio

Ativismo, ironia e pensamento

Eles atuam com intervenções urbanas, performances e produção teórica. Estão sempre no limite entre o risco real (incluindo o de ser preso) e a poética. As ações situam-se numa zona indiscernível entre política e estética. Estou falando de um coletivo de artistas/ativistas de Belo Horizonte e do weblog por eles criado, que leva o mesmo nome do grupo: Conjunto Vazio.

O blog tem uma apresentação gráfica interessante e limpa, com páginas de boa definição e conteúdos bem trabalhados. E coerentemente com sua proposta, o coletivo não traz os nomes das autorias dos textos e dos artistas que atuam nas performances. Há um tom de auto-ironia na apresentação –  estratégia, de fato, que é uma literalidade. Malícia bem articulada, pois evita a recaída em alguma coisa muito séria. Por exemplo: tratar o tema ou assunto de suas investidas como algo “superior” e, na rede de significações, como uma completude.  Essa estratégia aparece também nos textos sobre as performances: eles estão sempre se desconstruindo quanto aos atributos que podemos lhes agregar. Não pense que eles se cobrem de negatividade, pelo contrário, trata-se de um exercício lúdico e bem humorado.