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Pixo: política pública ou criminalização?


“But what can a poor boy do/Except sing in a rock´n´roll band/Guess in sleepy London town there´s just no place for a street fighting man” – Rolling Stones

Por iniciativa do governo municipal de Belo Horizonte, e numa ação combinada com o governo Estadual, foi criada uma delegacia especial para lidar com a questão da pixação. Os chamados “delitos” passam a ser enquadrados no  Artigo 288 do código penal brasileiro: “Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes: Pena – reclusão, de um a três anos. (Vide Lei 8.072, de 25.7.1990)”.

Enquanto em diversas esferas discute-se a questão expressiva e social da pixação, principalmente a partir da Bienal de São Paulo, em Belo Horizonte optou-se por criminalizar a juventude. A mão do Estado desce pesada sobre pessoas que, na sua maioria, jovens oriundos da periferia, encontram na pixação uma saída para o sufoco existencial e político.

É o que ocorreu, recentemente, com a prisão dos Piores de Belô – um coletivo de pixadores. Os jovens encontram-se presos em penitenciária, por tempo indeterminado, enquanto aguardam julgamento.

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Dentro do ônibus: é tudo música

Entrei num ônibus diametral, desses que atravessam Belo Horizonte de ponto a ponto. Era cedinho e me deparei com um homem e sua viola num dos primeiros bancos. Do outro lado do corredor, um homem com um vozeirão impressionante, porém muito musical, falava com o motorista.

Antes que eu passasse na roleta, o ônibus faz uma parada no sinal vermelho. E o que acontece? O violeiro, uma pessoa indescritível, começa a tocar alguma coisa. Ao mesmo tempo, o homem sinaliza ao motorista, com malícia, sobre o outro motorista de um ônibus que acaba de chegar, bem perto. Eles começam a rir do colega e o homem grita pela janela, naquela sua sonoridade bruta e musical: 

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Um corpo que faz mapa: iluminações avulsas I

 

 

 

 

 

 

Como o corpo se faz num fenômeno de borda e produz uma cartografia?

Há corpos que não passaram por qualquer formação artística e que, no entanto, vivem estados de poesia. Estão fora dos regimes de significação habituais, constituindo antes fenômenos de borda.

Vejo um senhor negro que aguarda no ponto de ônibus, logo na subida da favela. É começo de noite e as pessoas se deslocam pesadas, de volta do trabalho para casa. O  homem que observo é pobre. Porém, ele  se veste com dignidade (é preciso dizer disso numa paisagem como a nossa, brasileira): camisa branca e social, calça e sapato. Contudo, percebo logo que seu trajeto não cumpre a função das outras pessoas que posso observar naquele horário, como a volta do trabalho para casa ou qualquer outra, mas está numa borda que eu não consigo definir.  

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Kazuo Ohno: uma homenagem

"Dancing in Kushiro Marsh" IV (1994), by Eikoh Hosoe.

Kazuo Ohno encantou-se no dia 01.06.2010.  Tive a oportunidade de assistir a uma performance de Ohno em 1992, em Belo Horizonte. Eu não possuía qualquer informação prévia sobre o  butô.  Com um longo vestido que se arrastava pelo chão, um giro de Ohno no espaço demorava um tempo enorme. E esse movimento quase parado abria paisagens, janelas e visões a cada momento. Impressionante: a extensão é intensiva. Um corpo que esculpe o tempo e produz uma duração.

Tomo a liberdade de traçar, a partir das imagens de Ohno, linhas a-paralelas. Ou seja, sem encontrar correspondências biunívocas. Busco, para tanto, algumas idéias do filósofo José Gil (2). Ele fala de atmosferas, nuvens corporais, pequenas percepções:

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Política e estética do dissenso: o caso da pichação na Bienal de São Paulo

A Bienal de São Paulo/2010 incluirá a ação de pichadores na mostra. O convite foi feito ao mesmo grupo que, ao invadir a Bienal de 2010, foi preso, sendo que uma das integrantes ficou trancafiada por quase dois meses. Na época (Bienal de 2008), os curadores reagiram violenta e ruidosamente ante o atentado à arte e ao patrimônio público, deixando na mão das instituições judiciárias kafkanianas a sorte da jovem que havia pichado a Bienal. A nova curadoria, sob a coordenação de Moacir dos Anjos, opera uma reviravolta conceitual e política: o que foi condenado brutalmente sob as luzes do consenso estético-político (defendido a unhas e dentes pela curadoria anterior), volta para se manifestar,  agora sob a ótica do dissenso.