“Mais profundamente existe, existe uma emoção que está ligada à passagem do tempo propriamente dita, ao fato de sentirmos o tempo fluindo em nós e ‘vibrando interiormente’.
“Para meus versos, escritos num repente,
Quando eu nem sabia que era poeta,
Jorrando como pingos de nascente,
Como cintilas de um foguete,
Irrompendo como pequenos diabos,
No santuário, onde há sono e incenso,
Para meus versos de mocidade e morte,
- Versos que ler ninguém pensa! –
Jogados em sebos poeirentos
(Onde ninguém os pega ou pegará)
Para meus versos, como os vinhos raros,
Chegará o seu tempo.”
Maio de 1913
Traduçãp de Aurora Fornoni Bernadini
De uma vez, numa rede social, surgiam postagens discutindo o legado de Joseph Stálin. Coisa sem o menor interesse. Entretanto, solicitei que as pessoas defensoras de Stálin não me seguissem. Esqueci, porém, de dizer o motivo maior: é que eu sigo poetas e demais artistas que ele perseguiu e matou.
Não queria nem mesmo discutir ideologia, posicionamentos, contrapesos etc. Para mim, basta o que dizia Godard: matar um homem para defender uma ideia não é defender uma ideia – é matar um homem.
O tempo dos corpos nos escapa quase sempre. São raras as vezes em que nos permitimos ou sustentamos, um pouco mais, mais um pouco, viver o tempo como duração, num fluxo contínuo em variações de si.
A imagem de Joseph Beuys, performando o que chamou de Ação no Pântano, me faz pensar essa travessia de uma duração. O instante fotográfico congela – retrata um momento dessa poética. Momento que não vi, mas cuja fimagem me remete a duas linhas: a do tempo daquele corpo naquela travessia e a do tempo de quem observa – ou fotografa.
O novo site do Poro – intervenções e ações efêmeras – está um primor. Não só devido à elegância do visual, mas também às funcionalidades – nele você encontra tudo sobre os traçados e repertórios da dupla de artistas que o formam. Além de referências que desdobram e conectam esse plano de porosidades poéticas que a dupla de artistas, Brígida Campbell e Marcelo Terça-Nada! desenvolve desde 2002.
A entrevista coletiva do Ministro da Saúde, em meio ao avanço da pandemia do Corona Vírus no Brasil, no dia que antecede os 56 anos do golpe militar de 1964 foi sintomática. Cercado por ministros, coordenado agora por um militar, o ministro da saúde não teve liberdade para conduzir a reunião com a imprensa e as mídias.
Tudo montado com o objetivo de conter o ministro, que procura se ater às orientações técnicas e científicas, inclusive da Organização Mundial da Saúde, para desgosto do presidente que se pauta por um desgoverno e, mais do que isso, por necropolítica e pulsão de morte, exigindo a toda hora que o ministro se curve e abra mão do isolamento social, necessário segundo líderes e cientistas mundiais, para conter o vírus e evitar mais mortes.