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Ativismo e Análise Política Geral Sobrevivência: estratégias Zonas Experimentais [ZnEx]

A criminalização da cultura das ruas

Imagem: Rafael Lage

 

“Queremos devolver o poder às pessoas como coletividade. Queremos
resgatar as ruas.”
– RTS de Toronto

Naomi Klein, no livro intitulado Sem Logo – a tirania das marcas em um planeta vendido (Record, 2002), e do qual foi retirada a citação acima, reserva um capítulo sobre o “Resgate às Ruas”. Na linha de tiro de denúncia e exposição da vida que se faz mercadoria no capitalismo globalizado, a autora aborda as modalidades de uma “ecologia radical na selva urbana”. Os mobilizadores têm, segundo a autora, uma grande admiração pelos Situacionistas e desenvolvem diversas estratégias para a criação de um “espaço não comercializado na cidade”. Instaura-se uma vida compartilhada, uma ação que difere totalmente dos antigos protestos políticos.

Em Belo Horizonte, o movimento “Praia da Estação”, que surgiu em contraofensiva a um decreto municipal proibindo a realização de eventos culturais na Praça da Estação, é um exemplo típico, entre outros, de ações que procuram resgatar o espaço público. Uma ocupação carnavalizada e irônica, sem comandos centrais, criou um novo modo de resistência. Tornou-se um símbolo que une cultura, performatividade e ativismo. 

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Arte e Cultura Geral Micropolítica Zonas Experimentais [ZnEx]

Intervenção urbana: “não alimente as esperanças”

Intervenção urbana em terreno oriundo de demolição - autor desconhecido - Belo Horizonte

 

Uma intervenção urbana que logo me chamou a atenção. O autor (individual ou coletivo) teve uma sacada genial: remete à expressão “não alimente as esperanças” e ao mesmo tempo à literalidade de uma cerca, tal como no zoológico, quando os avisos pedem para “não alimentar” os animais. Na minha leitura, a imagem joga com as transformações da vida urbana (no caso, a demolição e as obras públicas no local), sempre em função dos automóveis. Seria uma ironia diante dos processos de modernização? Não alimente as esperanças… A intervenção em tela ocorre nas cercas de um terreno oriundo de uma demolição, para resolver as vias de transporte de veículos, no bairro Cidade Jardim, em Belo Horizonte. No outro aspecto, remete à questão existencial e também política, que conecta com a primeira. Poesia pura. 

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Ativismo e Análise Política Geral Políticas culturais Políticas públicas

Política pública de cultura como política de Estado

Joseph Beuys - A Matilha, 1969

 

Política pública: de conjuntura ou estruturante

Uma discussão que alguns movimentos, coletivos e indivíduos têm reiteradamente agendado, na área das políticas públicas de cultura, refere-se à distinção entre Políticas de Governo e de Estado.  Contudo, há quem acredite que as duas se equivalem. Mas o efeito prático de algumas ações, como a Lei de Fomento do Estado de São Paulo, e numa escola mais ampla, a agenda da gestão Gilberto Gil-Juca Ferreira no Minc, mostram que são coisas distintas, apesar de pertencerem à mesma lógica. E nessa linha, algumas  questões se colocam: sobre as relações entre Estado e Sociedade e sobre os modos de apropriação da esfera pública.

Enquanto a Política de Governo se articula em função de conjunturas,  uma Política de Estado propõe-se em ações de cunho  mais estruturante. Nesse último caso, os governantes, que se alternam no poder, estão obrigados a cumprir com determinadas linhas, programas e projetos. E mais do que isso, os governos têm de estabelecer conexões mais democráticas, além da mistura de instâncias técnicas e participativas, com pontos de vista mais amplos. 

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Conselho Municipal de Cultura: corporações ou multiplicidade?

Sol LeWitt wall drawing

A cidade de Belo Horizonte está em vias, finalmente, de emplacar o Conselho Municipal de Cultura. Porém, já pode nascer velho, caso prevaleça a exigência, no caso das áreas de linguagem (artes plásticas, música, artes cênicas e artes visuais), de representação por entidades. Numa reunião com a Fundação Municipal de Cultura, após intensa mobilização por esses e outros itens, a grande maioria dos presentes votou pela modificação da proposta de edital apresentada. O Movimento Nova Cena é um dos protagonistas dessa discussão, defendendo a eleição dos conselheiros pelo voto direto de seus pares, em assembléia designada para tal.

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Filosofia Geral Literatura Micropolítica

Blanchot e o cotidiano

“O cotidiano: o que há de mais difícil a descobrir”.

Assim Maurice Blanchot inicia um dos capítulos de A conversa infinita(tradução de João Moura Jr, Editora Escuta, 2007). Somos levados a passear por signos, conceitos e vislumbres desse estado de coisas que chamamos de cotidiano. E o cotidiano, reitera Blanchot ao longo do texto, é aquilo que “não se deixa apanhar”. Por ser o que nos escapa, “ele pertence à insignificância, e o insignificante é sem verdade, sem realidade, sem segredo, mas é talvez também o lugar de toda significação possível”. Blanchot caminha pelas diversas fases do cotidiano, apreendendo nesse movimento suas defasagens: revelações súbitas, iluminações avulsas, contrapontos e contratempos.

Numa primeira acepção, diz Blanchot, o cotidiano é “aquilo que somos em primeiro lugar e o mais frequentemente: no trabalho, no lazer, na vigília, no sono, na rua, no privado da existência”. Então, um movimento seria o de abrir o cotidiano à história, ao Verdadeiro. Lugar da Revolução.