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Intervenção urbana: “não alimente as esperanças”

Intervenção urbana em terreno oriundo de demolição - autor desconhecido - Belo Horizonte

 

Uma intervenção urbana que logo me chamou a atenção. O autor (individual ou coletivo) teve uma sacada genial: remete à expressão “não alimente as esperanças” e ao mesmo tempo à literalidade de uma cerca, tal como no zoológico, quando os avisos pedem para “não alimentar” os animais. Na minha leitura, a imagem joga com as transformações da vida urbana (no caso, a demolição e as obras públicas no local), sempre em função dos automóveis. Seria uma ironia diante dos processos de modernização? Não alimente as esperanças… A intervenção em tela ocorre nas cercas de um terreno oriundo de uma demolição, para resolver as vias de transporte de veículos, no bairro Cidade Jardim, em Belo Horizonte. No outro aspecto, remete à questão existencial e também política, que conecta com a primeira. Poesia pura. 

E assim, apesar da imensa propaganda da cidade oficial, a cidade emergente e real insiste em dar as caras. Uma poética efêmera, que irá logo ser retirada. Percebe-se que a intervenção foi feita com um elemento disponível no local, sendo uma visão do acaso. Esta aí o poder e a fragilidade de uma intervenção urbana. Com essa imagem inicio uma série dedicada às intervenções urbanas, poesias do acaso, segundo Cristina Fonseca.

Tais poéticas podem ser tomadas na perspectiva de novos modos de subjetivação, para pensar com Foucault. Interessa, sobretudo, pensar a cidade e os seus espaços como possíveis exercícios para a criação de territórios existenciais (Guattari). Uma “cartografia de demarcações cognitivas, míticas, rituais, sintomatológicas…”

A proposta é de trabalhar em cima não necessariamente de inscrições em paredes e muros. Inclusive porque tem um site que já vem fazendo um ótimo trabalho sobre o tema (vide me Mais referências). Darei mais ênfase nas ações poéticas, no midiativismo e performances.

Mais referências

– GUATTARI, Félix. Caosmose: um novo paradigma estético. Tradução de Ana Lúcia de Oliveira. São Paulo: Editora 34, 2006.

– Olhe os Muros – site que publica imagens nos muros das cidades

Poro: coletivo de intervenções urbanas

– Intervalo, respiro, pequenos deslocamentos – ações poéticas do Poro –

Obscena – agrupamento de criação cênica com projetos de intervenção em espaços públicos

–  Blanchot e o cotidiano – por L. C. Garrocho

 

Por Luiz Carlos Garrocho

Um aprendiz do sensível. Professor, pesquisador e diretor de teatro. Filósofo.

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