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As linhas desejantes de uma vida fascista: O Conformista, de Bertolucci

 

Rever O Conformista (1970), de Bernardo Bertolucci, depois de tantos anos, foi uma experiência tão fascinante quanto intrigante. A questão que permanece: a análise das motivações para uma pessoa aderir ao fascismo. E mais ainda: o que seria uma existência fascista, afinal?

O fascismo, mais do que uma ideologia específica (contra a democracia, o parlamentarismo e também contra o socialismo, sendo que o indivíduo se conforma ao coletivo, à corporação e ao Estado), é uma atitude existencial-política. É o que mostra Michel Foucault em Introdução à vida não fascista:

“o inimigo maior, o adversário estratégico (…): o fascismo. E não somente o fascismo histórico de Hitler e de Mussolini – que tão bem souberam mobilizar e utilizar o desejo das massas -, mas o fascismo que está em nós todos, que martela nossos espíritos e nossas condutas cotidianas, o fascismo que nos faz amar o poder, desejar esta coisa que nos domina e nos explora.”

Marcello (Jean Louis Tringnant) é um intelectual que procura o seu amigo cego,  ideólogo do Partido, para aderir voluntariamente ao fascismo. Ao mesmo tempo, pretende-se casar. Seu amigo pergunta o motivo  e ele afirma: para ser uma pessoa normal. Uma pessoa que, segundo ele, ao ver o traseiro de uma mulher, olha para trás, admira e segue em frente. A trivialidade de uma vida como a de qualquer um. Marcello quer ser igual e, como todos os iguais, eliminar em si e nos outros toda e qualquer diferença.