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Uma carta de Fabrícia: Les Laboratoires D’Aubervilliers


Fabrícia Martins
estuda no curso “arts du spectacle chorégraphique” Paris. Tem se voltado para as pesquisas em performance, principalmente composição cênica em tempo real. Enviou-me um material maravilhoso, incluindo o Journal des laboratoires, produzidos por um coletivo de estudos em performance, do qual faz parte, intitulado Laboratoires d’Aubervilliers.

São pesquisas transdisciplinares, nas quais se entrelaçam linhas conceituais e sensíveis. Vou ler e tentar trazer, para o blog, alguma coisas dos materiais. Há textos maravilhosos, atravessando questões do nosso tempo e sobre os Laboratoires D’Abervervilliers. Ela me fala de uma improvisação realizada pelo coletivo por duas semanas numa galeria: “as improvisações eram abertas a quem quisesse, bastava se inteirar das regras.”

Tive a oportunidade de conviver num processo criativo de treinamento com Fabrícia, em 2002, na Escola de Artes Cênicas/Escola de Belas Artes-UFMG. Fabrícia fazia parte do grupo de Dudude Hermmann, a Cia Bem-Vinda. Sua experiência e seus interesses em dança já ultrapassavam as fronteiras dessa arte, voltando-se para a performance art. Lembro-me de uma discussão, em que as pessoas falavam muito da necessidade de repetir uma ação – de gravá-la etc. Fabrícia, então, questionou: “Não entendo porque as pessoas de teatro têm tanto necessidade de treinar a repetição, pois não existe um ação que seja igual à outra… O que temos é somente mudança…” Ela já estava utilizando um procedimento que mais tarde eu iria começar a adotar, principalmente a partir das leituras de Renato Cohen e John Cage: a ação em tempo real e a indeterminação.

Além disso, fizemos um exercício por algumas horas com bastão. É muito simples e consiste em utilizar o objeto como um diálogo tônico, retirando-o depois e deixando apenas a dança pessoal. Foi ótimo, para mim, compartilhar do pensamento-corpo de Fabrícia, nem que fosse por um momento só. Depois ela foi fazer o mestrado em Paris. Ultimamente, tem pesquisado e estudado o campo da performance, dedicando-se ao processo da composição em tempo real, um procedimento desenvolvido pelo coreógrafo e performer João Fiadeiro.

O blog de Fabrícia é pura poesia. Chamei de fábrica d(e)os sentidos. Há um texto do dia 15 de setembro (as postagens quase nunca trazem título, o que é muito interessante) que é uma jóia. Há um toque existencial e irônico: “virei rinoceronte” e “urubus famintos se aproveitaram da vaga que deixei”… Às vezes, o cotidiano aparece, nu e cru: “vomitei duas noites e dois dias e descansei no domingo”. Mas não há nada de vida particular, de vidinha mesmo ou de qualquer coisa do tipo “olha pra mim”. Ao contrário, a pura expressão.

Mais referências
Les Laboratoires d’Aubervilliers – performance by Antonia Baehr
French Research – Les Laboratoires…

Corpo Aberto

Um novo Projeto de Rodrigo Quik:

“O próprio nome “Corpo aberto” foi sendo o nosso norte. Será mais ou menos os nossos corpos se abrindo para nós mesmos , nossas buscas e pesquisas se abrindo para a exploração do movimento como fim . Tudo isso dentro de regras específicas e claras, sem objetivar um resultado espetacular e totalmente pronto na web . Correr riscos, descobrir este novo espaço da web para o corpo e o movimento . Buscaremos os meios pelos quais faremos a pesquisa e a presença como fim.”

Improvisões – edição 2008


Improvisões edição 2008 está começando. E neste ano abre com o Fórum Improvisões, trazendo conferências e debates sobre o tema das improvisações intermídias, da cena em processo, dos hibridismos e narrativas contemporâneas. Nos dias seguintes, ocorrem as apresentações improvisacionais: artistas de imagem, corpo e som dialogando ao vivo, diante do público e sem hierarquias. A consultoria artística do projeto é de Marcelo Kraiser.

Programação:
30/08 (sábado): Fórum Improvisões
10 h: Conferência de Carlos Mendonça, doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP, intitulada “Corpo e Mídia: entre a aproximação e o limite”.
14h: Ricardo Aleixo (poeta e performer) apresenta a conferência-performance “Desvios para a dispersão: Orfeu, John Cage, Exu”.
15:30: Ivana Bentes, diretora da Escola de Comunicação da UFRJ e pesquisadora em arte contemporânea, faz a conferência “Arte e Dispositivos”.

Apresentações:
Dia 1/09 -Peter Lavratti e Claudia Lobo (corpo)Nara Vargas, Marina Utsch e Débora Pessali (imagem)Wesley Cristiano, Gilmar Gonçalves e Leandro Oliveira (som)
Dia 3/09 – Paulo Rocha e Diogo Ribeiro (corpo)Tatu Guerra (imagem)Philippe Lobo (som)
Dia 5/09 – Livia Rangel (corpo)Elias Mol (imagem)Thiago Correa (som)
Dia 7/09 – Christina Fornaciari (corpo)Alexandre Milagres (imagem)Babilak Bah (som).

Local: Teatro Marília – Av. Alfredo Balena, 586. BH. Entrada franca.
Mais informações: 3277-4697

Improvisões: inscrições abertas

Imagem de Glênio Campregher

O edital Improvisões – edição 2008 – está no ar. O projeto já está na sua terceira edição e realiza-se no Teatro Marília/Belo Horizonte. As inscrições devem ser feitas até o dia 30 de julho/2008, de 2ª a 6ª feira, das 14h às 18h, no Teatro Marília, localizado na Av. Alfredo Balena, 586, Bairro Santa Efigênia/Belo Horizonte.

Improvisões fomenta e difunde a improvisação que conflui com o teatro performático, com ênfase na materialidade cênica, na qual se dão relações não hierárquicas entre os meios de corpo (bailarinos, atores, performers, artistas circences), imagem (videomarkers, vjs, artistas plásticos que trabalham com a projeção da imagem etc.) e som (poetas vocais, músicos etc.).

Na edição 2008, Improvisões terá ainda um fórum de debates, no qual serão discutidos os procedimentos, confluências e conexões dessa cultura que associa improvisação e experimentação das linguagens artísticas.
Referências e outras informações:
Edital Improvisões
Blog Converse: Arte Expandida
Improvisions – Marcel Kraiser
Nenhuma linha só minha – Ricardo Aleixo – Jaguadarte
Anotações sobre Teatro e Experimento – Revista Polêmica Imagem
Teatro e Intermídia: anotações sobre conceitos, forças e potências – Revista Polêmica Imagem

Site de Katie Duck: dança improvisacional

Katie Duck, performer de dança improvisacional e coréografa colocou no ar seu novo site. Katie esteve no Brasil em diversas ocasiões ministrando oficinas de improvisação e composição. No site há textos que abordam desde aspectos da história da dança contemporânea, na conexão Reino Unido/EUA, até informações sobre os procedimentos compositivos de Katie Duck. Chamo a atenção, particularmente, para um vídeo em que ela dança uma suite de Bach: sobriedade de linhas e precisão.

Alguns podem pensar que os procedimentos compositivos de dança pesquisados por Duck são utilizáveis somente em dança – grande engano. Até porque, numa perspectiva de obras híbridas e espaços entre, não se trata mais de pensar em linguagens isoladas. São poéticas do movimento-corpo-som-imagem.

Para as minhas pesquisas de treinamento em e como criação, extraio dos toques de Katie, dois procedimentos básicos, entre outros: a) aprender a compor através do sair, do deixar, do retirar-se do jogo cênico; b) a distinção entre escolha (choice) e acaso (chance). Não se trata de regras e improvisação – porque, aqui, estamos não no campo da estrutura, mas das forças em interação. São procedimentos técnicos que impulsionam os peformers da criação corpórea a um exercício sóbrio e livre ao mesmo tempo. A precisão é o intervalo de uma velocidade e não uma coisa dada e conferida por alguma autoridade (estética ou que seja).

A utilização de acasos (ecos de Cage) aparece, ainda, como ferramenta importante para a improvisação. No entanto, em busca da mudança, que é necessária, passamos a fazer escolhas sem a criação de um plano de imanência: um plano de escuta do espaço da atuação. Por outro lado, Duck mostra que, paradoxalmente, somente podemos ter acesso aos acasos através de escolhas. Mas, ainda, trata-se de perceber o que está emergindo no campo.

E no caso de compor com a saída, este é um exercício de grandes potencialidades. Os performers aprendem o desapego e, o que é vital, o retorno para o vazio.