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O homem sem cavalo

Imagem: Ivan Gabovich

Iluminações avulsas são presentes do instante, frestas que se abrem no repente. Você não as produz, tampouco as controla. Mas pode praticar modalidades de escuta na imanência – naquilo que emerge no campo de uma percepção flutuante.

Os possíveis entre cotidiano e poiesis que desabrocham ou irrompem nos espaços-tempos de uma experiência do entre.  As vezes são suspensões que, antes de nos retirar do mundo, nos permitem adentrá-lo mais ainda – a ponto de abismar nos sentidos. Tais iluminações avulsas – porque não presas a nenhum critério de oposição entre sagrado e profano ou que ainda perfazem totalidades – me trazem cortes e conexões com os processos de criação-composição. Ao modo das conjunções disjuntivas – para pensar com Deleuze.

Que  se instalem, portanto. E que   se saiba cultiva-las.

Trago aqui o encontro que testemunhei: o de um menino com um andarilho da cidade – do diálogo curto que se estabeleceu. Encontro de gigantes, acredite. Um acontecimento – aquilo que se passa entre mundo e linguagem. Que não se deixa apreender pelo regime de significação – não que não produzem sentido. Mas porque há sempre aquela sensação de que já é demasiadamente tarde – mesmo que seja um segundo. Pois que se tenta, pelos hábitos sensório-motores e pelas conexões de significação, totalizar  o acontecimento quando ele, pelo reverso, já escapou.