Gilberto Gil: refazenda na cultura


Imagem de Marcello Casal JR Abr- fonte: http://www.agenciabrasil.gov.br/media/imagens/2007/09/11/1719mc198.jpg/view

Gilberto Gil deixa o Ministério da Cultura. Há uma análise muito interessante, numa entrevista concedida por Ana de Oliveira a Leonardo Brant, no blog Cultura e Mercado do Instituto Pensarte. Ana, uma especialista no tropicalismo (veja o site tropicália), repensa a Gestão Gil sob a ótica do movimento que desmontou o modelo nacionalista e trouxe novas percepções:

“Em sua complexidade conceitual, o tropicalismo assimilou matrizes criativas distintas – desde o considerado desprezível ao mais sofisticado estilo – e estabeleceu um diálogo profícuo entre cultura de massa, mercado, tecnologia, modernidade e tradição, superando velhas dicotomias éticas e estéticas.

Sabe-se que essa gestão do Ministério da Cultura empenhou-se na criação de canais de interlocução com âmbitos e manifestações culturais as mais diversas, sem prerrogativas ou discriminação entre o popular e o erudito, o regional e o urbano, o local e o global. Se muito foi feito para promover o acesso equitativo às novas tecnologias digitais, tanto se fez pela construção de uma política específica para a preservação da capoeira, por exemplo.

Em última instância – e em poucas palavras – entendo que o impulso tropicalista para a convocação geral (de parceiros, de pensamentos, de estilos, de gênios díspares) e esse amor pela dessemelhança, pela multiculturalidade, sejam pontos sensíveis dessa convergência.”

A gestão Gilberto Gil continua com o seu parceiro Juca Ferreira. Vi Juca defendendo corajosamente, no meio corporativo das artes, a diversidade cultural, deslocando modos de ver, ampliando o debate. As três diretrizes do Ministério, cidadania cultural, expressão simbólica e economia da cultura, tornaram-se conceitos-chave para as políticas públicas para a área.

A invasão bárbara de Gil abriu caminhos para a dimensão plural das culturas: singularidades do existir cotidiano. A gestão Gil deixa-nos, antes de tudo, a condição para não ficarmos reféns das referências exclusivamente corporativas, que procuram dominar hegemonicamente o debate e o espaço político. Cultura como economia da libido, estratégia de resistência aos poderes, re-invenção do humano.

A passagem de Gilberto Gil pelo Ministério da Cultura do Brasil foi uma refazenda: “anoitecerá tomate e amanhecerá mamão” – como ele mesmo disse, ao se despedir.

Mais referências:

Gilberto Gil: lado A e lado B

Sai Gil entra Juca Ferreira

Gil, Juca e o Ministério da Cultura –

Gilberto Gil/textos (site oficial) –

Por Luiz Carlos Garrocho

Um aprendiz do sensível. Professor, pesquisador e diretor de teatro. Filósofo.

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