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Festival de Performance de Belo Horizonte

beuys
Performer Joseph Beuys (1921-1986): o que interessa não é o narcisismo, mas a ferida narcísica

Começa hoje e vai até o dia 21.08, o Festival de Performance de BH. A cidade nem acabou de assimilar a Mip2, e já temos o bloco de Denise Pedron, Ricardo Garcia e Cia instaurando espaços e tempos. E tome encontros, oficinas, além das próprias performances!

Uma cultura performática vai se disseminando, desse modo, pela cidade. Um novo projeto focalizando a performance art é mais uma janela aberta. Mais oportunidades de participação e mais enfoques sobre o tema. Belo Horizonte, afinal, já tem mais de 3 milhões de habitantes e muitas urbes em variações sem fim.

O que é performance? Os dois encontros estão, a cada vez, a cada obra em processo e zona experimental instaurada, procurando responder ou, mais ainda, deixando que a pergunta devore a si mesma. No entanto, para quem não conhece ainda o fenômeno, não custa dar uma olhada no verbete da Enciclopédia de Artes do Itaú Cultural.

As oficinas contam com as  presenças de Luca Forcucci (Itália), que vem aqui pela terceira vez, deixando um rastro de discípulos rebeldes na pesquisa performance e som, passando pelo Lúcio Agra (Brasil), legendário performance-pesquisador no campo da performance-palavra, e ainda Rick Seabra (EUA/Brasil) chegando com performance-imagem, além de muita ironia e críticas sobre o Império, numa das apresentações. A grade de performances também promete. Veja mais sobre a programação no Catálogo do Festival.

A performance art contamina o teatro, a dança e tudo o mais. Começamos a pensar música pelo movimento, dança por poesia, imagem por som. Há uma inquietude no ar: inclassificáveis, muitos artistas migram, perpassam fronteiras e adentram desertos ou não-representações. E não funciona dizer que veio das artes plásticas. Porque a origem, como dizia Foucault lembrando Nietzsche, no mínimo esconde atrás de sua máscara uma boa gargalhada.

Então, vamos nos apropriar desses projetos que nos convidam e nos incitam. Mas precisamos, além de projetos-eventos, de programas de política pública de cultura que possam produzir mais trabalho e renda. Ei, não se confunda, é isso mesmo: trabalho e renda, friso! Ora, não estou falando de emprego. Mas isso é um assunto a que este blog-trincheira voltará, oportunamente, a discutir. Então, vamos saudar os nossos colegas desbravadores do Mip (Marcos Hill e Marco Paulo Rolla), e desdobradores  deste Festival em tela (Denise e Ricardo). No entato, o alerta está aí, querendo pauta: precisamos garantir os meios e os recursos das pessoas sobreviverem de arte.

Um segundo aspecto refere-se aos nossos limites: temos que enfrentá-los. Falo especificamente da eficácia. Não vamos nos confundir: performance art é, antes de tudo, pura eficácia, ou não é. Mas para isso precisamos criar uma cultura de discussão, de mestres e saberes. Qual o problema? Diferentemente do campo do espetáculo, que visa resultados (mesmo que não os atinjam), a performance art é puro risco, incompletude e não-acamento. Mas isso não impede que possamos criar uma cultura crítica (não-autoritária). Fica, então, a sugestão.  Obviamente, teremos que saber distinguir as contribuições afirmativas e positivas daquelas que são destrutivas. Estas, como lembra Marcelo Kraiser, inspirando-se em Deleuze, não passam de sobre-codificação: um artista resolve julgar o outro! Sabemos que não há plano desinteressado na vida, mas podemos criar espaços avaliativos: qual a sua, a minha, a nossa eficácia?

Em tempo: com a performance Extasis, este que vos escreve estará com os comparsas Izabel Stuart e Marcelo Kraiser (com a contribuição de Juliana Saúde e Geraldo Octaviano) colocando a cara à tapa e testando essa eficácia que é puro assombro, no dia 21, às 19 horas, no Galpão Cine-Horto.

E encerro esta postagem com a homenagem ao inspirador de tantos (e pro-evocador de telepresenças, xamanismos e de outras paisagens), o saudoso Renato Cohen, a partir de um sonho que tive, pouco tempo depois de seu encantamento:

Um avião cai na mata. Uma velha senhora diz: “O piloto está emitindo
sinais de lá!” Entramos pela noite escura, mata a dentro, em busca de
seus sinais. Ouvimos sons de pássaros e de outros bichos. Uma
indicação xamânica: os sons dos animais reproduziam a sonoridade do
espírito de quem procurávamos. Por fim, fabricamos uma caixa com
colheres e garfos – como Arthur Bispo com suas coleções de canecos e
outros objetos – que reproduzia a sonoridade que sintonizávamos…


Por Luiz Carlos Garrocho

Um aprendiz do sensível. Professor, pesquisador e diretor de teatro. Filósofo.

6 respostas em “Festival de Performance de Belo Horizonte”

prezado Garrocho
Li seu texto por recomendação da Denise e também porque já possuía ´´otima referência sua de nossos encontros na Abrace. Gostei muito e já vou passar para colegas, alunos e amigos performers de SP
abração
Lucio

Lúcio,

Coabitamos algumas paisagens e velocidades. E estou torcendo para que haja um encontro. Seja bem-vindo a Belo Horizonte e ao Festival.

Dear Garrocho,

I’ve read with interest your resume of the discussion we had at Galpao Cine Horto on Sunday
23rd of August 2009. Very good and full of interesting references. Thanks by the way of the one you gave me in the car. Finally I loved your performance (Extasis).

All the best and hope to write in Brasilian next time : )

Peace

Luca

Luca,

Agradeço sua paciência em acompanhar o texto que se refere à discussão no Festival de Performance, no Galpão Cine-Horto.
(obs. a postagem a que Luca se refere encontra-se no blog de performance e filosofia, Duração & Diferença, e intitula-se Performance e máquina abstrata.)

Espero desfrutar sua próxima vinda a Belo Horizonte, que espero seja para breve. Afinal, o que interessa é nos surpreendermos com os bons encontros, no qual o novo pode aparecer. Buscar as forças ativas. Evitar, quando possível, as forças reativas. E se não for possível evitá-las, desenvolver estratégias de sobreviver às negatividades.

Tenho ouvido seu cd “2 Humans & The Cosmos” – ele tem me acompanhado em vários momentos: é maravilhoso!

Um grande abraço

In english:

Luca,
I appreciate your patience in following the text refers to the discussion at the Festival of Performance at the Cine-Horto.
(note that the posting refers Luca is the blog of performance and philosophy, Duration & Difference, and is entitled Performance and abstract machine.)

I enjoy your next visit to Belo Horizonte, which I hope will be soon. After all, what matters is to be surprised with the good meetings, in which the new can appear. Search the active forces. Avoid, when possible, the reactive forces. And if you can not avoid them, develop strategies to survive the negativity.

I have heard his CD “2 Humans & The Cosmos” – it has accompanied me on several occasions: it is wonderful!

An embrace to you.

Oi mineiro!
Obrigada pelos textos! Muito bons!!
Estou em Salvador fazendo meu mestrado em Artes Cênicas (Performance e Narrativa Visual) e estive na programação com vocês (Cruzes).
Continuarei acompanhando o blog!
Merda, parabéns!!
Da mineira, rsss
Lilih

Lilih

Mande notícias e conte um pouco do desenvolvimento de seu tema para nós, quando puder. Tem tudo a ver.
Abraços

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