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Ativistas ou bacantes?


Parecia  uma ação típica do Reclaim the streets (imagem acima), quando manifestantes ocupam as ruas não para um protesto clássico, mas para realizar o direito à cidade.  Uma rua do centro da cidade foi invadida de repente, sem qualquer autorização prévia, por dezenas de mulheres que vestiam uma camisa listrada, tipo de presidiário, com um short preto. No peito, a numeração num retângulo branco.  E vinham batendo no chão com um enorme e oco canudo metálico em cada mão, como se fossem baquetas. E de fato, ali estava uma estranha bateria. A imagem e a sonoridade (um pouco estridente) eram muito poderosas. Curioso que tudo estava em preto e branco. Não havia cor.

Porém, mais curioso ainda é que era na época do natal. Então, apareceu um monte de policiais e as bacantes-manifestantes foram empurradas às paredes e postes, sendo exigido de cada uma que apresentassem documentos. Não sei se foram presas. Mas a prensa foi muito forte. Os policiais eram civis. Estavam à paisana. Tinham todo um ar de milícia fascista. Uma espécie de tropa de elite do prefeito.

Tudo isso me evoca, ao mesmo tempo, uma coisa de uma carnavalização que se perdeu em Belo Horizonte. E que a cidade está retomando, com um misto de irreverência, performatividade e ação política.  Tenho em mente  o fenômeno Praça Livre, entre outras ações, como a Marcha das Vadias. As mulheres vestidas de presidiárias e com um detalhe fashion e provocante, pareciam ser uma mistura dessas coisas: intervenção, bloco caricato, reclaim the streets e performatividade.

E isso, imagine você, numa noite de Natal! Em Belo Horizonte, tinha que dar polícia! E eu narrava tudo aquilo para algumas pessoas amigas, entre elas a coreógrafa, bailarina e performer Dudude Hermann, que se encantava. Nessa hora, um senhor com jeito de empresário se aproxima e me pergunta por que eu gostava tanto daquela coisa. Acho que ele tinha objeções. Eu já ia lhe responder quando,

“Aí de repente,

mas de repente

Etelvina me chamou

Está na hora do basquente

Etelvina me acordou

Foi um sonho minha gente!”

 Referências:

– Trecho de Acertei no milhar, de Geraldo Pereira e Wilson Batista.

Por Luiz Carlos Garrocho

Um aprendiz do sensível. Professor, pesquisador e diretor de teatro. Filósofo.

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