Categorias
Arte e Cultura Geral Políticas culturais Zonas Experimentais [ZnEx]

Experimentação artística em pauta: do contemporâneo ao intempestivo

imag00811


Das Zonas de Experimentação (ZnEx)

A experimentação artística está em pauta. Posso assim resumir a noite do dia 30.07.08, na ocasião de reabertura do Teatro Klaus Vianna, em Belo Horizonte, que faz parte do projeto Oi Futuro, incluindo o lançamento da Semana Internacional de Artes Digitais e Alternativas (SIANA-BH). Esta última, uma iniciativa da Cia Luna Lunera de teatro. Estamos definitivamente entrando em outra realidade de produção em arte e cultura. Não em termos de novo paradigma, uma superação do passado ou de outras formas de expressão, ou coisas assim. Em vez de uma  ultrapassagem, o que temos é a estranha co-habitação de criações artísticas e atitudes existenciais completamente heterogêneas entre si.

Categorias
Arte e Cultura Geral Literatura

A fala errante: Blanchot

tomas-rotger
Imagem de Tomas Rotger

“Devemos, em primeiro lugar, tentar reunir alguns dos traços que a abordagem do espaço literário permitiu-nos reconhecer. Aí, a palavra não é um poder, não é o poder de dizer. Não está disponível, de nada dispomos dela. Nunca é a linguagem que eu falo.  Nela, jamais falo, jamais me dirijo a ti e jamais te interpelo. Todos esses traços são de forma negativa. Mas essa negação somente mascara o fato mais essencial de que, nessa linguagem, tudo retorna à afirmação, que o que nega nela afirma-se. É que  ela fala como ausência. Onde não fala, já fala: quando cessa, persevera. Não é silenciosa porque, precisamente, o silêncio fala-se nela.  O próprio da fala habitual é que ouví-la faz parte de sua natureza. Mas, nesse ponto do espaço literário, a linguagem é sem se ouvir. Daí o risco da função poética. O poeta é aquele que ouve uma linguagem sem entendimento.

Categorias
Arte e Cultura Artes Cênicas Geral Zonas Experimentais [ZnEx]

Everyone has a dream: Tiago Gambogi e Margaret Swallow

Foto de Guto Muniz

Tiago Gambogi e Maggi Shallow estão apresentando o novo espetáculo, ‘EXTRAORDINARY’ – Everyone has a dream – um teatro físico que é um misto de dança, texto, ação poética e música. Veja mais sobre o novo trabalho do seu grupo sediado em Londres, f.a.b. The Dtonators, no My Space.

Conheci Tiago Gambogi no Curso Técnico de Ator  da Fundação Clóvis Salgado, quando ele foi meu aluno por uns poucos meses. Ali, pude perceber a estranha sensibilidade de Tiago. Realizávamos alguns jogos com objetos, de modo não realista. Ele acionava sua imaginação e criava situações inusitadas e sensíveis, exigindo dos seus parceiros de jogo uma atualização constante. Qual era o segredo? Ele brincava, se envolvia, acreditava nos estímulos que gerava no espaço. Era generoso e não se furtava ao que acontecia na cena.

Tiago queria mais. E  logo partiu para outra, pois a formação de ator era determinada, naquela época, pelos  ingredientes clássicos e interpretativos. O que não lhe fazia a cabeça. Resolveu, então, desembarcar no Oficcina Multimédia, um grupo de pesquisas teatrais performativas. De lá tomou rumos mais radicais, estudando dança e performance, até criar seu próprio grupo, com a parceira Margaret Swallow. Vez por outra temos a oportunidade de assistir, aqui no Brasil e em Belo Horizonte, seus trabalhos. O último, Made in Brasil, tem um texto neste blog: Uma conexão Londres-BH.

Todo mundo tem um sonho.

Categorias
Arte e Cultura Políticas culturais

Política de cultura: o balanço das horas

scaner

Algumas pessoas perguntam se é possível, no âmbito das políticas públicas de cultura, realizar um trabalho que contemple a diversidade, a inovação, a transdiciplinaridade, os novos agenciamentos e apropriações coletivas e democráticas dos espaços e tempos.

Respondo afirmativamente. E como termino um ciclo de gestão cultural, quando estive à frente dos Teatros da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte (2005 a 2009), apresento este pequeno balanço das horas.

A imagem acima  traz a página de um dos jornais de Belo Horizonte (Jornal O Tempo, matéria de Daniel Barbosa ), mostrando a arrancada da ação. Na foto, Ricardo Aleixo e Renato Negrão, poetas e performers que se apresentaram no evento de abertura com outros artistas, lançando também a Zona de Invenção Poesia &, parceira  da Arte Expandida.

Categorias
Arte e Cultura Filosofia Geral Literatura

Blanchot: pensar a força

Imagem: obra de Kandinsky

“… se a ‘força’ exerce sobre Nietzche a atração que também lhe repugna (“Ruborizar-se com o poder”) é porque ela interroga o pensamento em termos que irão obrigá-lo a romper com sua história. Como pensar a ‘força’, como dizer a ‘força’?

A força diz a diferença. Pensar a força é pensá-la por meio da diferença. Entenda-se isso inicialmente de um modo quase analítico: quem diz a força, di-la sempre múltipla; se houvesse unidade de força, não haveria força. Deleuze exprimiu isso com uma simplicidade decisiva: “Toda força está em relação essencial com uma outra força. O ser da força é plural, seria absurdo pensá-lo no singular.” Mas a força não é apenas pluralidade. Pluralidade de forças quer dizer forças distantes, relacionando-as umas às outras pela distância que as pluraliza e que as habita como a intensidade de sua diferença. (“É do alto desse sentimento de distância”, diz Nietzsche, “que nos arrogamos o direito de criar valores ou de determiná-los: que importa a utilidade?”). Assim, a distância é o que separa as forças, é também a sua correlação – e, de maneira mais característica, é não apenas o que as distingue de fora, mas o que de dentro constitui a essência da sua distinção. Dito de outro modo: o que as mantém à distância, o exterior, é sua única intimidade, aquilo pelo qual atuam e se submetem, “o elemento diferencial” que é o todo de sua realidade, não sendo portanto reais senão quando não têm realidade em si próprias, mas somente relações: relação sem termos. Ora, o que é a Vontade de Potência”? “Nem um ser, nem um devenir, mas um pathos”: a paixão da diferença.

Maurice Blanchot

Blanchot, Maurice. Reflexões sobre o nilismo, in A conversa infinita – vol. 2. Tradução de João Moura Jr. São Paulo: Escuta, 2007.

Imagem: Kandinsky

Mais referências:
Site Maurice Blanchot (e seus contemporâneos) – em francês
Espace Maurice Blanchot – em francês e espanhol
Espaço Maurice Blanchot – português
Enigmatic French writer committed to the virtues of silence and abstraction. The Guardian. Obctuary
LEVY, Tatiana Salem. A experiência do fora: Blanchot, Foucault e Deleuze. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003.