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O futuro já chegou: a visão da cidade

Andamos por aí e muitas vezes não vemos o que está diante de nossos olhos. É necessário um olhar estrangeiro para captar essas coisas, acostumados que estamos ao que dirige nossa atenção: os pequenos objetos de interesse, as preocupações e paixões miúdas. Henry Lefebvre diz que as obras de ficção científica são as que melhor mostram  nossas cidades. Nos romances de ficção científica, diz Lefebvre,

“Ora os antigos núcleos urbanos – as Arqueópolis – agonizam, recobertas pelo tecido urbano que prolifera e que se estende sobre o planeta, mais ou menos espesso, mais ou menos esclerosado e cancerizado por placas; nesses núcleos destinados ao desaparecimento após um longo período de declínio, vivem e vegetam fracassados, artistas, intelectuais e gângsters. Ora reconstituem-se cidades colossais, trazendo para um nível mais elevado as antigas lutas pelo poder. No exemplo limite, na obra magistral de Azimov, ‘A Fundação’, uma cidade gigante cobre um planeta inteiro, Trentor. Ela possui todos os meios do conhecimento e do poder. É um centro de decisão na escala de uma galáxia, que ela domina.” (O direito à cidade)  

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Arte e Cultura Geral Políticas públicas

Agenda Juventude e Pixação (2): equívocos do Movimento Respeito por BH

 


Crítica da criminalização e da campanha movida contra os pixadores

A imagem acima é parte da peça publicitária que a Prefeitura de Belo Horizonte vem divulgando pela cidade, sob a rubrica do Movimento Respeito por BH. A ação do poder público municipal, associando-se a outras esferas, como a Polícia Militar, Polícia Civil e um procurador, visa isso mesmo que está aí na imagem: o pichador no presídio! E mobilizam, através da propaganda, o denuncismo e, nessa linha, tratam o jovem que se expressa por esses meios, nos limiares da legalidade, como bandido!

Como venho mostrando nesse blog e, na última postagem dedicada ao lançamento da Agenda Juventude e Pixação, essa é uma ação que se equivoca como política pública. Mas que se mostra coerente com outras ações que têm por objetivo a criminalização da cultura das ruas, como mostra Naomi Klein no livro em Sem Logo. Essa é uma característica das cidades em que as políticas públicas inclusivas estão abandonadas ou em crise.

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Agenda Juventude e Pixação (1): lançamento

Lançamento da Agenda

Foi lançada a Agenda Juventude e Pixação, num debate promovido pelo Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais, em 25 de novembro de 2011. A coordenação da Agenda e dos debates é de Cristiane Barreto, psicanalista e psicóloga. Paulo Rocha, do Conjunto Vazio, e este que vos escreve são os outros cavaleiros iniciais dessa causa. Este post revela apenas a minha opinião, não sendo necessariamente a dos outros mobilizadores e participantes.

A Agenda possui os seguintes eixos: a) a afirmatividade e positividade do pixo como expressão e percepção do urbano; b) a crítica contundente da criminalização do pixo e da juventude; c) o desejo de contribuir para a construção de políticas públicas inclusivas.

Note-se que a Agenda é apartidária. E não tem por princípio a oposição ou a concordância, a priori, a qualquer gestão de governo. No entanto, se dá o direito de discutir, criticar e responsabilizar as políticas para a juventude, particularmente para a questão do pixo. A presença de políticos “profissionais” nos encontros – pois todos nós somos políticos da vida – se deve ao interesse de cada um. Esse primeiro encontro foi apenas um desenho possível, para aquele momento. Outros momentos poderão contemplar perspectivas distintas. 

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À deriva na cidade (1): na madrugada, uma estranha sala que aparece

 

“… eu lhe chamaria mais uma vez para darmos um passeio até o fim da avenida, a ver se acabam nossas luzes.”  Maurício Vasconcelos

Madrugada. Continuávamos a andar, à esmo, pelas ruas do centro da cidade. Nem sabíamos que era uma arte da deriva. Naquela época nós apenas seguíamos sem rumo, deixando-nos levar. Você podia circular a pé, durante a noite em Belo Horizonte, nos anos 70 do século passado. Éramos os dois muito jovens: Mauricio Vasconcelos, um poeta apaixonado por Rimbaud, Artaud e pelos beatniks, e eu.

Esse era um meio de conhecer a própria alma: investigando o corpo da cidade.

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Intervenção urbana: violência, arrogância e despreparo da Guarda Municipal

Leandro Lara e Sitaram Costa em Olho da Rua

 

As ruas têm dono

Não bastasse a última postagem, intitulada  de A criminalização da cultura das ruas, em Belo Horizonte, temos de denunciar o modo como a Guarda Municipal trata artistas e pessoas comuns (pois, como poderão ver, é disso que se trata afinal). Os performadores da intervenção urbana Olho da Rua foram tratados com arrogância e violência, como relato a seguir.

Uma coisa é certa: as ruas têm dono. E todo cuidado é pouco, pois ele costuma primeiro bater, para depois perguntar.

Desterritorializações no asfalto e calçadas

A intervenção urbana Olho da Rua opera numa interface entre teatro físico e performance. Três aspectos principais podem ser destacados: a ressignificação dos espaços públicos, os estados corporais e o diálogo possível com as pessoas, objetos, presenças e arquitetura urbana. Utilizamos elementos de composição no instante e imagens-partituras trazidas para serem desterritorializadas no asfalto e calçadas. Exploramos uma zona de indeterminação entre o “corpo artista” e o “corpo comum” do transeunte. A expressão “olho da rua” é o motivo e a guia da ação: tanto no sentido dos “olhares da rua”, de seus múltiplos e rizomáticos enfoques, quanto no sentido de ser atirado na rua.