Do relativismo

Ricardo Alves Júnior, parceiro de pensamento & cena, escreveu sobre o relativismo a que me referi:

O que tento provocar é sair dessa pequena crítica onde critérios de verdades são aplicados a discursos, a formas, a paixões.

Arte não seria paixão e desejo?

Sei do risco que estou correndo em apostando nesse relativismo. Mas a historia do pensamento crítico já nos mostrou que o que temos são discursos. Temos múltiplos discursos frente a um mesmo ponto (chamem como queira : objeto, imagem, coisa…)

Estou pensando assim.
Para que ficar buscando uma verdade intrínseca?
Acredito que é mais potente ver como os discursos se organizam. Como cada mundo delirante está contido por detrás de cada discurso.

(O melhor exemplo é seu blog. Esse convite para delirar que você esta propondo a todos.)

O que importa é expor seu discurso, sua parcela de verdade, sua moral.
Importa é construir uma ética pessoal, um corpo sem órgãos.

Encontrar sua força, sua potencia, suas linhas de fuga.
Isso me ensinou o cinema: enquadrar o mundo é enquadrar uma única porção da realidade. Existem outras infinitas porções. Pois bem faça a sua… e me deixe livre..

Agora, sabemos que discurso é poder…
Assim sobrevive a academia que não amamos. Essas são suas regras. Apontar “problemas conceituais” sem nenhuma paixão e desejo; longe de ser arte. De arte eles não entendem.
Esse academismo nos leva a construir um mundo de verdade onde não existe a coexistência e nem a multiplicidade.
Arte e como paixão e desejo: coexiste, habita diferentes mundos, está regida por pulsões.

É dionisíaco, mas também apolíneo.

O relativismo em que digo é minha prática diária para sair de esse pseudolugar de verdade objetiva que imperou e ainda impera no discurso dominante, principalmente em relação a arte. Esse relativismo é o lugar que encontro para chegar a coexistências e a multiplicidades que são os princípios nos quais acredito… Hoje, essas são minhas verdades.

Ricardo Alves Júnior

Arte como atitude

Não vou discutir o que é arte – seria gastar meu e seu tempo lustrando ossos de ofícios que procuram antes preservar status e vaidades. Mas a arte não se separa de suas funções. Uma delas, é a que procura restituir uma ordem que a vida não possui. Outro modo de funcionar parte de um movimento contrário: desmancha fronteiras, desterritorializa posições, arranca as proteções que a arte assume diante de uma vida incerta, efêmera.

Não há um modo melhor ou pior de arte. Cada um deles produz um agenciamento maquínico: são forças desejantes.

Ricardo Júnior, parceiro de criações e deambulações de estética e filosofia, diz que importa é que cada um habite um mundo, uma paisagem. Um relativismo radical, portanto, já que não há uma crítica que julgue qual mundo é melhor para se viver. A questão pode ser: aposte no seu desejo, experimente.

A arte como obra acabada é um desejo de permanência. Já uma arte como atitude desenvolve-se por outros procedimentos: working in progress. Vide o libro que Renato Cohen nos legou:Working in progress na cena contemporânea. Não é uma recusa da arte como obra (pois a obra recusa tudo o que a torna instável), mas um modo de se criar um meio perecível, processual e sem fechamento, para o acolhimento da obra.

Outras paisagens. Outras poéticas. Outros desejos.