Do Abedecedário de Gilles Deleuze, em entrevistas conduzidas por Claire Parnet: a letra A de Animal, em três partes. A fala de Deleuze é magnífica. Ele produz, como é característico de sua filosofia, um conceito em devir. Assim, ele fala do animal e também, devido à provocação de Parnet, do escritor. Deleuze admira essa redução que o animal produz, ao selecionar aquilo que o afecta. É isso o que “faz um mundo”, diz Deleuze.
O animal constrói um território. E “construir um território para mim é quase o nascimento da arte”. Mas o território “só vale em relação a um movimento através do qual se sai dele”. Então, Deleuze fala da desterritorialização, um conceito criado por ele e por Guattari.
Para Deleuze, o animal “é um ser que está à espreita” – “é terrível essa existência à espreita”, pois “nunca se está tranquilo”.
Um escritor escreve “no lugar de” e não “para”. Ele diz: “escrevo no lugar dos selvagens”. “Escrever no lugar dos animais que morrem”. Pois “não são os homens que sabem morrer, são os bichos”. Deleuze fala de habitar um limite, entre o pensamento e o não-pensamento, entre o humano e o não-humano.
O Abecedário é precedito pela conversação entre Deleuze e Claire Parnet, a respeito dos motivos:
Claire Parnet [1994]: Gilles Deleuze sempre se negou a aparecer na TV. Mas atualmente ele acha sua doença tão parecida com a petite mort, da canção de A. Souchon, que mudou de opinião. Mantive, porém, sua declaração [“a cláusula”], feita em 1988, no início da filmagem:
Gilles Deleuze [1988]: Você escolheu um abecedário, me preveniu sobre os temas, não conheço bem as questões, mas pude refletir um pouco sobre os temas… Responder a uma questão, sem ter refletido, é para mim algo inconcebível. O que nos salva é a cláusula. A cláusula é que isso só será utilizado, se for utilizável, só será utilizado após minha morte.
Mais referências –
– O abecedário de Gilles Deleuze: versão impressa. Extraído do site Estrangeiro.net
– Veja também, para download, o Vocabulário de Gilles Deleuze, por François Zourabichvili – Do site do Centro de Estudos Claudio Ulpiano
2 respostas em “Gilles Deleuze: A de animal”
Gosto tanto dos verbetes… mas dessa vez, nessa leitura-escuta, o que me pegou foi “a cláusula”.
Sim, Cibele. É muito curioso. Mas parece que a “cláusula” não vingou, pois Deleuze acabou permitindo que o filme fosse divulgado ainda em vida. Porém, Parnet conta que manteve a “cláusula”.