“Como poderia acontecer que, no pensamento sobre a arte, na leitura do objeto de arte, nós acabamos por perder o que a arte tem de melhor? Na verdade o que perdemos define a arte: a estética, porque a arte não é um objeto entre outros, pelo menos não um objeto de conhecimento (ou não apenas um objeto de conhecimento). Pelo contrário, a arte faz outra coisa. Na verdade, a arte é precisamente a antítese do conhecimento; funciona contra o que Lyotard chamou uma vez de ‘fantasias de realidade’ (A condição pós-moderna). Isso quer dizer que a arte pode muito bem fazer parte do mundo (afinal de contas é uma coisa produzida), mas ao mesmo tempo está à parte do mundo. E este distanciamento, no entanto, é o que constitui a sua importância.
Neste artigo, quero pensar um pouco sobre este distanciamento, este ‘excesso’ ou ‘ruptura’ que, como observa Lyotard, constitui a efetividade da arte para além da sua existência como um objeto cultural. Eu quero afirmar que este excesso não precisa ser teorizado como um transcendente, podemos antes pensar o poder estético da arte num sentido imanente, através do recurso à noção de afecto.