Lefebvre disse que o Estado se expressa, na cidade, pelos vazios. Não necessariamente por meio de “espaços não cheios”, como Sérgio Martins, tradutor de A revolução urbana, me lembrou. Pois os espaços urbanos tomados por uma infinidade de carros e viadutos, assim como de pessoas transitando apressadas de um lado para o outro, também seriam vazios. Num e noutro caso, uma negação ou exclusão de práticas sociais e de convívio.
Aliás, eu não curto muito a expressão “vazios” para esses casos. Compreendo a denúncia de Lefebvre. Porém, prefiro guardar o “vazio” para um agenciamento de outra ordem. Prefiro chamá-los de “lugares da ausência”, ou para pensar com o antropólogo Marc Augé, de “não-lugares”. Uma negação do lugar como prática social:
“o não-lugar é o contrário da utopia: ele existe e não abriga nenhuma sociedade orgânica”.
Os dois conceitos não dizem a mesma coisa, mas se conectam. Eles expressam essa ausência. No caso em tela, os “lugares da ausência” que o Estado produz através do urbanismo, visando os interesses do capital.