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Cozinhar é um ato revolucionário

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Cartaz produzido pelo Poro

 

O Poro – uma dupla de artistas formada por Brígida Campbell e Marcelo Terça-Nada – vem produzindo, além das intervenções urbanas e outras ações efêmeras, cartazes como este para distribuição gratuita.

O tema cozinhar é um ato revolucionário é um dos temas mais belos – não só pelo cartaz, mas também pelo ato em si. Você se cuida, valoriza cada momento, desenvolve estratégias vitalizantes, torna-se mais solidário. E não se esqueça de lavar as louças e deixar a pia limpa – senão, não é nada revolucionário.

Aprendi a cozinhar por volta dos 18 anos de idade, quando aderi à alimentação natural e macrobiótica. No começo, na minha casa, um rapaz disputar o fogão era quase um absurdo. Depois foi se tornando corriqueiro, até aceitável.

No meio do caminho, perdi esse vínculo com o ato de cozinhar. Em parte isso se deu porque adotei a alimentação crudívera. Que tem dicas muitos interessantes – principalmente sobre os brotos. Mas não é suficiente, pois o nosso cérebro  se desenvolveu quando passamos a utilizar os alimentos cozidos. A energia gasta na digestão dos alimentos crus foi utilizada para outros fins. Também está relacionado ao convívio – ao ato de cozinhar e comer juntos, segundo alguns estudos antropológicos.

Então eu perdi esse hábito de cozinhar. As frutas estavam sempre ali, à disposição. Tudo ficou mais fácil. Porém, mais desinteressante – pois comia sozinho muitas das vezes. Também não me envolvia mais com a preparação – o fogo, os ingredientes etc. E fiquei muito yn.

Com o tempo, também a relação que tinha com a comida natural. Fui aderindo aos lanches, aos alimentos processados, ao açúcar aqui e ali, não-integrais etc. Não por acaso, mas principalmente devido a uma profunda crise existencial, passei a sofrer de colite. Foram anos de visita a médicos, sem nenhuma solução. Ninguém falava em comida.

As poucos fui retomando a macrobiótica, reaprendendo a cozinhar. Uma alimentação também slow food.

Não é só uma questão de preparar os alimentos – é não utilizar aqueles que são processados pela indústria alimentícia, é conhecer a origem, é perceber os vínculos com o ambiente. É evitar a matança sem fim e em escala industrial de animais etc.

E para não terminar esse post sem compartilhamento, aqui vai o prato que eu preparo todos os dias no desjejum: chapati de arroz integral.

Chapati

O jeito tradicional é o de utilizar uma massa feita de arroz integral  moída (no moedor de cereais). Mas é bastante trabalhoso, tenho muitas tarefas ultimamente. Então faço um pouco mais rápido.

– Amasso uma quantidade de arroz integral cozido. Tem que ser o tipo cateto – grão redondo. Primeiro na forma de pequenos bolinhos. Depois vou ajuntado. Vou amassando até ficar bem consistente. Formo uma espécie de pizza  – o chapati.

– Como o arroz gruda muito, vou molhando minhas mãos com água filtrada, durante o processo.

– Pego uma frigideira de fundo grosso – preferência ferro ou aço inox. Unto com óleo de gergelim virgem. Mas pouco. Aqueço. Coloco o chapati.

– Abaixo o fogo, voltando até quase apagar. Muito baixinho mesmo, quase não podendo enxergar a chama.

– Deixo lá e vou fazer outras coisas. Normalmente, uns 20 minutos ou mais para cada lado. De vez em quando confiro.

– Vou tentando soltar o chapati, mexendo com a frigideira – sacudindo para os lados, até o chapati se soltar. Quando ele está pronto de um lado, ele forma uma crosta crocante que se solta. Somente depois de muito tempo é que isso ocorre. Antes, gruda completamente.

– Se alguma parte não soltar, volto a aquece-la , ou ajudo com uma espátula de madeira.

– Viro de lado. Espero mais uns 20 minutos. Desta vez será mais rápido.

– Solto o chapati e confiro se ficou crocante e dourado, sem queimar e sem ficar duro. Coloco em cima de uma peneira metálica, tendo por baixo desta uma vasilha bojuda. É porque o chapati começa a suar. Se colocar num prato logo ele perde o aspecto crocante.

– Está pronto. É cortar e comer. Pode-se abrir ao meio. Ou não. Acrescento uma mistura de missô com tahine integral, junto com cebolinha crua e salsinha. Ou somente com missô. De vez em quando uso um patê de conserva de nirá.

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Referências –

Cozinhar é um ato revolucionário (e outros cartazes) – in Vírgula, Imagem – Marcelo Terça-Nada

Cozinhando com arte – um agradecimento a Vera Viana.

Arroz Integral  – In Tampopo Gourmet 

Um cérebro maior graças ao cozimento dos alimentos.

 Entrevista com Michael Pollan – parte 1: Cozinhar é um ato político

 

Por Luiz Carlos Garrocho

Um aprendiz do sensível. Professor, pesquisador e diretor de teatro. Filósofo.

Uma resposta em “Cozinhar é um ato revolucionário”

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