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Anotações sobre recusa, resistências e culturas afirmativas

1. Quando penso nas estratégias de recusa, tomo por caminho a Poesia da Recusa, de Augusto de Campos. O poeta e performer Ricardo Aleixo foi quem deu a dica da leitura. Logo na abertura do livro, Augusto lembra Valéry, dizendo que “o trabalho severo, em literatura, se manifesta e se opera por meio de recusas”. A recusa opera em linhas estéticas e éticas. Augusto de Campos lembra que, em poesia, as duas estão entrelaçadas.

Do músico John Cage ao criador teatral e filmaker Carmelo Bene: trilhas de recusa.

2. As micropolíticas tiveram expressão e força em Foucault. Ele distingue, por exemplo, entre os vários regimes de técnicas, dois tipos que são as técnicas de poder e as técnicas de si. Assim, temos:

“as técnicas de poder, que determinam a conduta dos indivíduos, submetendo-os a certos fins ou à dominação, objetivando o sujeito; as técnicas de si, que permitem aos indivíduos efetuarem, sozinhos ou com a ajuda de outros, um certo número de operações sobre seus corpos e suas almas, seus pensamentos, suas condutas, seus modos deser; de transformarem-se a fim de atender um certo estado de felicidade, de pureza, de sabedoria, de perfeição ou de imortalidade.”

3. Foucault coloca também uma nova forma de luta política: não somente aquelas que se estabelecem no âmbito das classes, dos grupos em vias do poder, mas contra as formas de assujeitamento. Por fim, ele antevia uma região em que as técnicas de poder misturam-se às técnicas de si.

Foucault explicita, num texto que discute o sujeito e o poder, as lutas micropolíticas: a) são lutas transversais: não se confinam a países, governos específicos etc. b) não são lutas que visam os efeitos do poder, mas antes criticam o poder não controlado sobre os indivíduos, sobre os corpos etc;c) são lutas imediatas: não questionam a instância distante de poder, mas a que está envolvida diretamente;d) são lutas que questionam o status do indivíduo: o que os restringe quanto às suas escolhas, o que define para si uma identidade, o que os separa dos outros indivíduos, e todas as formas de assujeitamento;e) giram em torno da questão: “quem somos nós?”

4. Porque a política antecede o ser, diz Deleuze. Já estamos, sempre, numa situação política. Porém, a macropolítica não é a detentora do plano de exercício politico. Não cobre os territórios, mas realiza capturas – ou melhor, apropria-se das forças da vida. E não são a fonte de inspiração micropolítica. Porém, não vamos pensar que as políticas que funcionam num plano de representação são más. Estão aí, no plano da vida, exercendo poder. A questão do fortalecimento da participação na esfera macropolítica pode ser uma contribuição micropolítica? Penso que isso é possível, mas não reduz ou delimita a ação dos movimentos micropolíticos.

5. Por outras linhas, proliferam as culturas afirmativas. Não são se opõem às recusas. Culturas afirmativas, aqui, estão no lugar de culturas de resistência. As micro-políticas procuram sair da lamúria e, no mínimo, diriam com o sambista Ismael Silva: tristezas não pagam dividas. Não estamos falando de identidades: A=A que não B. Estamos falando da substituição, nas culturas afirmativas, do “é” pelo “e”. A série projeta-se a caminho, não pára num retrato. As culturas afirmativas não coincidem consigo mesmas, mas com suas transições (Brian Massumi). As micropolíticas tem a ver com o incremento da potência de agir (Spinosa).

6. Quanto às culturas afirmativas, tomo de Antônio Negri uma bela definição, a partir de Spinosa:

“Gostaria de dizer enfim que a redescoberta de Spinoza que devemos a Deleuze e a Matheron nos permite viver “este” mundo, isto é precisamente o mundo do “fim das ideologias” e do “fim da história”, como um mundo a reconstruir. Ela nos mostra que a consistência ontológica dos indivíduos e da multidão permite olhar para frente cada vez que a vida singular, como ato de resistência e de criação, emerge. E se os filósofos não gostam da palavra “amor”, e se os pós-modernos declinam dele seguindo a idéia de um desejo fenecido,nós, que relemos a Ética, nós, o partido dos spinozistas, nós ousamos sem falso pudor falar de amor como amais forte paixão, uma paixão que cria a existência comum e destrói o mundo do poder.”

7. Penso, além disso, nos movimentos e militâncias estético-culturais, de como configuram respostas à questão da economia da vida. De como as novas gerações enfrentam o problema. Penso nas recusas das gerações que trilharam esse caminho. E no massacre que muitas viveram. E, ainda, das novas cooptações, das vanguardas estabilizadas etc.

O fascismo e o stalinismo foram obscuridades que o capital lançou mão em determinado momento. Um novo momento do capital no pós-guerra e a rebelião jovem toma conta das democracias do planeta. Refluxo do capital e cooptação dos melhores sonhos nas décadas seguintes. Estabilizam-se as vanguardas, ou elas insuflam mudanças no modo como o capital se faz acumular, principalmente através da arte e da cultura. Novos movimentos surgem nas lutas anti-globalização, justamente quando acreditava-se que nada novo ocorreria em termos de rebelião jovem.

8. Em outras palavras: a pressão da produtividade econômica sobre as novas gerações. Na década de 60, pela via alternativa e na abertura de possíveis que o capital utilizou como estoque de invenção para os anos de refluxo do dinheiro. Um novo movimento surgirá das filas dos jovens desempregados na Inglaterra: o punk. E o capital se desterritorializa mais e mais. Desmaterializa tudo. Inclusive a arte. Ocorre que o emprego acabou. O filósofo Gilles Deleuze deu a dica: estamos não mais nas sociedades disciplinares (Foucault), mas nas sociedades de controle (de tudo, do fluxo de informações, das atitudes que podem gerar novos processos de acumulação…). Não que aquelas não continuem atuando, mas inserem-se em algo mais complexo: O morcego e a mariposa: ela inventa a queda rodopiante e vertical, fingindo-se de morta, para fugir do predador e ele aprende a queda livre em quebradas de asa para pegar sua presa.

As lutas geracionais recolocam em pauta as questões dos valores simbólicos frente aos valores econômicos. As modalidades pré-fabricadas do desejo procuram definir nossa entrada no mundo em termos de sexualidade, saber de corpo, estética, ética. As estratégias de recusa, de resistência e das vias alternativas procuram responder a esta questão.

9. Não que seja um problema “jovem”. Aliás, alguns fazem crer que se trata disso. È um problema da vida e da renovação de suas forças. As respostas que temos encontrado nas militâncias estético-cultuais estão dizendo que habitar o planeta não é um plano pré-traçado pela junção valores e acumulação de capital. Há mundos possíveis. Recusas, resistências, afirmatividades e alternativas estão mostrando isso.

Referências:

Foucault, M. El sujeito y el poder. Traducción de Santiago Carassale y Angélica Vitale.

__________. As técnicas de si. In: Université du Vermont, outubro, 1982; trad. F. Durant-Bogaert).Hutton (P.H.), Gutman (H.) e Martin (L.H.), ed. Technologies of the Self. A Seminar with Michel Foucault. Anherst: The University of Massachusetts Press, 1988, pp. 16-49. Traduzido a partir de FOUCAULT, Michel. Dits et Écrits. Paris: Gallimard, 1994, Vol. IV, pp. 783-813, por Wanderson Flor do Nascimento e Karla Neves. Disponível no site do Espaço Michel Foucault.

Negri, Antonio. Uma filosofia da afirmação. In Spinosa e a Filosofia: Leitores de Spinosa.

Campos, Augusto. Poesia da Recusa. Perspectiva: 2006, São Paulo.

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Ativismo e Análise Política Geral Micropolítica Sobrevivência: estratégias

Como ficam as micropolíticas: resistir é capitular?

Slavoj Zizek diz que sim. Num artigo da revista impressa Piauí, número 16, Zizek discute a questão: “o capitalismo deve ser combatido por meio de reivindicações impossíveis ou se deve almejar a conquista do poder do Estado?” O título já contém a resposta: Resistir é capitular.

Zizek, depois de considerar que o capitalismo triunfa no planeta e conquista mentes e corações, alinha as alternativas de esquerda:

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Arte e Cultura Filosofia Geral

Assis Valente: felicidade é brinquedo que não tem…

 

Então, é Natal. Não fosse a cisão que atravessa nossas sociedades (de mercado), seria um ritual ou um costume, ou algo assim. Mas não é disso que se trata. Comemora-se, não se sabe bem o quê… Nem todos os grupos humanos comungam com a ideia de Natal, mas quase todos estão submetidos à civilização ocidental-cristã e suas mutações. Por exemplo: uma comemoração religiosa transformar-se num grande mercado mundial!

As  músicas natalinas tornaram-se um dos subprodutos dessa hegemonia. Porém, nem sempre os requisitos da encomenda, entre eles o de embalar as consciências, foram atendidos. Assis Valente, o pré-socrático do morro, como dizia Jorge Mautner, fez outra coisa, completamente diferente: abriu a nossa ferida. O genial compositor que tentou suicídio três vezes e viveu oprimido pela sua ambiguidade sexual, apaixonado por Elvira Pagã e depois por Carmem Miranda, compôs sua canção natalina, fugindo dos estereótipos:

Anoiteceu, o sino gemeu
E a gente ficou feliz a rezar
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me dar
Eu pensei que todo mundo Fosse filho de Papai Noel
E assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
 
Brincadeira de papel
 
Já faz tempo que eu pedi

Mas o meu Papai Noel não vem 
Com certeza já morreu

Ou então felicidade 
É brinquedo que não tem

Quando eu era menino, eu ouvi isso no rádio e, pela primeira vez, percebi que o Natal não era para todos… O rádio era assim, conectava-nos com um ausente-presente, introduzindo uma voz na paisagem do interior de Minas Gerais. Aquilo mexia comigo. O drama sacudia o universo da vida comum, desequilibrando o céu que nos protegia.

Em outras palavras, Assis Valente expõe nossas delusões,  para fazer uma conexão com o Budismo.

Assis, o Valente, cortou os pulsos e não conseguiu morrer, pulou do Corcovado e ficou enganchado numa árvore. Por fim, numa tarde de 1958, tomou formicida com guaraná, ao lado de crianças que brincavam ali perto, na Praia do Russel, Rio de Janeiro.

Augusto de Campos montou o seguinte paradoxo para falar de Assis Valente e de sua obra: o felicídio da suicidade. A poética nem se ampara num sentimento e nem retrata objetivamente o real, produzindo antes o impensável (na trilha de Deleuze). Se fosse a felicidade do suicídio ou o suicídio da felicidade teríamos dois retratos, um subjetivo e outro social. Ou, dito de outro modo, um niilismo e uma sociologia. Mas o paradoxo faz coexistir, num mesmo plano, os heterogêneos.

O Valente Assis viveu a plenitude do paradoxo. Que não tenha sobrevivido às suas questões, não é um julgamento, mas a constatação de que os seus tempos foram difíceis e muitas vezes há o suplício misturado ao canto. A vitoriosa Carmem Miranda, que se incomodava com a acidez e com a ironia lúdica dos versos de Assis, no momento de sucesso nos EUA, também foi ao chão, dia após dia, explorada pelo próprio marido e produtor.

Nem niilismo romântico e nem objetividade discursiva nos salvará – talvez essa seja uma das mensagens de Assis, o Valente. Aliás, um dos versos mais geniais é puro paradoxo-zen:

“sapateia na poeira sem pena
sem dó
a poeira é aquele que sapateou até virar pó”
.

Mais –

Boas Festas na voz de Carlos Galhardo:

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Zikzira Teatro Físico: Eu vos liberto



Zikzira Teatro Físico traz um novo espetáculo: Eu vos liberto. Montado numa antigo depósito de tecidos, o 104 da Praça da Estação, em Belo Horizonte, o espetáculo abre uma zona sombria e espectral, configurando o cenário decadente de um palácio. A encenação tem por base a tragédia de Euclides, Hipólito, na qual Fedra vive o tormento de uma paixão incestuosa.

Fernanda Lippi e André Semenza, responsáveis pela criação corporal e cênica, respectivamente, continuam com a busca por um teatro físico visceral e, de certo modo, espectral. Acrescentam, para quem viu o filme As Cinzas de Deus e o espetáculo Verissimilitude, a vocalização. Em Verissimilitude, a vocalização se dava em pouquíssimos momentos, em sons inarticulados, que não remontavam a uma significação, deixando-nos num plano de sensações. Agora, o Zikzira Teatro Físico, após suas experiências com as vocalizações a partir das técnicas de Grotowski, arrisca-se no terreno de um oralidade mais explícita quanto à significação do texto.

Retomo alguns pontos. A questão do espectral: vejo que o teatro físico alimenta-se dos estados corpóreos, configurando mais espectros do que personagens dramáticos ou épicos. A figura, tão cara para uma arte narrativa e de conexões lógicas de significação, é des-figurada. Não pelo mergulho psicológico (teatro dramático moderno norte-americano, por exemplo, onde, em Longa Jornada Noite Adentro as personagens se desmancham, mas a representação está firmemente alicerçada em cena), ou mesmo épico-narrativo, com os seus enunciados discursivos diretamente para o público, mas sim porque o estados corporais e os desenhos intensivos tomam a composição cênica. Deleuze fala de uma lógica da sensação, quando aborda a pintura de Francis Bacon. Por ressonância, penso que os espectros do teatro físico, como o Zikzira desenha, aparecem primeiramente como figuras, mas são tomadas por forças desfigurantes. Deleuze diz que “em arte, tanto em pintura quanto em música, não se trata de reproduzir ou inventar formas, mas de captar forças”. Ele cita a fórmula de Klee: “não apresentar o visível, mas tornar visível”. E o que o teatro físico e pós-dramático realiza não é a figuração das personas, mas sim as forças invisíveis que atravessam os corpos.

Matteo Bonfitto faz uma distinção entre os actantes máscara, de um lado, e estado e texto, de outro. No primeiro caso, temos uma ação que informa sobre o ontem e o hoje da personagem, numa linha que Matteo Bonfitto chama de temporalização. Há uma relação de causalidade: o que o personagem faz informa sobre seu passado e cria uma tensão em relação ao seu futuro – entra-se, portanto, num plano de coerência e de lógica.

Quando, ao contrário, se entra no actante-texto ou no actante-estado, o agenciamento é outro. Nesse momento, Bonfitto diz que ocorre uma destemporalização da personagem. Aqui, diz Bonfitto, o actante espacializa-se. Ou seja, ele não se encontra consubstanciado num sujeito psicológico. Torna-se impossível encontrar ações que sejam funcionais para o desenvolvimento dramático. Não há mais meios, diz Bonfitto, que possam identificar em tal ser ficcional uma estrutura lógico-temporal. Ocorre uma dispersão do personagem – o encadeamento lógico-causal, próprio do drama, se frustra.

O elenco, com performers de várias nacionalidades (brasileira, chilena e coreana), mergulha nesse mundo espectral e nos remete às forças invisíveis. Estão comprometidos com a linha das sensações que perseguem durante todo o espetáculo. E isso é muito bonito de se ver.

Fernanda Lippi mostra, assim, que continua com sua busca por uma linha pulsional, de uma coreografia energética. Não se trata mais de dança, moderna ou contemporânea, apesar do universo que baila diante de nossos olhos. Essa é uma dança que se dá antes de modo mais intensivo e menos extensivo.

Quanto às vocalizações, em vários momentos sou afetado pela mesma viagem espectral e desfigurante das forças que tomam os corpos. Fernanda Lippi e André Semenza estão introduzindo, cada vez mais, as vocalizações nas criações cênicas do Zikzira. Tais forças sonoras resultam também de impulsos corporais, numa busca que parece partir dos ensinamentos e procedimentos de Grotowski. Eu vos liberto traz, além disso, outros planos vocais, como o cantor lírico sobre uma ponte acima dos atores.

São expressões vocais que viajam mais no plano das sensações do que das significações, o que me evoca a característica espctral do teatro físico que o Zikzira tem configurado.

No entanto, há um componente de representação na vocalização do papel de Hipólito, por exemplo, que me remete a um teatro no qual a figuração da fala é explícita e dada à significação, apesar do delírio que o plano ficcional nos arrasta. Explico: a fala em alguns teatros dramáticos ou épicos são igualmente capazes de produzir afecções poderosas, mas o aspecto representacional está lá, com a figuração (o personagem ficcional com sua história configurando uma persona no teatro dramático ou o mesmo pronunciando um discurso, apresentando um mundo, como ocorre no teatro épico).

Arrisco um pensamento: o texto épico ou dramático contém elementos de significação da ordem da figuração. Neste, as forças invisíveis estão em contato com as forças visíveis (o que é dito como confissão da personagem ou como expressão de um mundo objetivo), mas predomina o plano no qual o texto se impõe aos outros sentidos da cena (e o sentido deriva, afinal, do texto literário). Ora, Eu vos liberto busca outro plano (o das sensações) e, ao mesmo tempo, introduz o texto que traz sua carga de significação. São perguntas que me faço: o lugar do texto falado no teatro físico. O grupo Zikzira, agora introduzindo vocalizações provenientes de um texto épico/dramático, abre essa trilha de investigação.

Referências:

BONFITTO, M. O ator compositor. São Paulo: Editora Perspectiva. 2006
DELEUZE, G. Francis Bacon – Lógica da sensação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora.2007

Imagem: André Semenza – divulgação

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Improvisões – improvisação intermídia

O projeto Improvisões – improvisação intermídia no Teatro Marília – está no ar, com edital e tudo mais, sendo que as inscrições vão até o dia 30.11.07.

Improvisões é um projeto da Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Municipal de Cultura/Diretoria de Teatros, com foco na improvisação intermídia e no pensamento criativo. O projeto faz parte da ação Arte Expandida – experimentação nos Teatros Municipais. Em que o projeto inova? Improvisões permite que artistas de meios diversos e heterogêneos possam dialogar, ao vivo, diante do público, sem hierarquia.
São 04 apresentações de improvisação intermídia, realizadas no Teatro Marília. Para cada apresentação são selecionados, mediante edital, 03 artistas ou núcleos de criação (quando se trata de mais de um artista) caracterizados, cada um, como mídia do “corpo”, da “imagem” e do “som”, que irão, a partir disso, compor um Coletivo de Improvisação. Ao todo, participam das quatro apresentações 12 artistas ou núcleos.
Juntamente com as improvisações, são apresentadas performances conceituais, intituladas de Pensamento Disparado, realizadas por pensadores que se dedicam às questões de estética contemporânea.
O artista Marcelo Kraiser, um dos idealiazadores de Improvisões, escreve sobre o projeto:
“Improvisões: olhares e ações que surgem e se voltam para a improvisação inventando relações entre o corpo, a imagem e o som. O que queremos dizer com ‘invenção de relações’ ao invés de falarmos em ‘relações entre as artes’? Simplesmente que o que se improvisa são as relações entre os meios visuais, sonoros, linguagens verbais, artistas e técnicos que ocupam o espaço do teatro dentro e fora da caixa cênica devem ser compreendidas como trajetórias, linhas de ação e pensamento nas quais nada foi determinado com antecedência.
Os meios não são vistos nesse caso como aquilo que já foi catalogado como artes visuais, teatro, dança, performance, crítica e assim por diante e que sentados confortavelmente em seus territórios firmes iriam dialogar uns com os outros. Ao contrário disso, não concebemos os meios como lugares de passagem e nem como suportes, mas lugares muito instáveis, onde não fazem o menor sentido os opostos como teoria e prática, ruptura e continuísmo, antigo e contemporâneo pois neles não existem os controles das instituições do pensamento ou dos mercados das artes. O que não quer dizer um elogio do espontâneo e do vale tudo.
Esse lugar entre, como diz Gilles Deleuze, não é um local onde as coisas se relacionam uma com a outra, ‘ é o lugar onde as coisas adquirem velocidade… uma e outra, riacho sem início nem fim, que rói suas duas margens e adquire velocidade no meio’.”