Os registros do Oficcina Multimédia constituem uma contribuição muito importante para a história das artes cênicas no Brasil. Principalmente pelo fato de ser um grupo de vanguarda, pioneiro em Belo Horizonte quanto ao experimentalismo, incluindo a contaminação entre linguagens artísticas, as criações híbridas e, por fim, devido à radicalidade de sua poética de encenação. Por muito tempo o Oficcina foi marginalizado, considerado hermético, mas a persistência de Ione Medeiros, sua dedicação e sensibilidade, aliada à sabedoria de dar espaço para a autonomia de performers jovens e corajosos, consolidaram uma linguagem e um modus operandi em pesquisa e criação cênica.
Qual o segredo do Oficcina Multimédia?
De modo ligeiro:
a) a trajetória que começa, de um lado com o músico e compositor argentino Rufo Herrera, que já havia desenvolvido, nos anos 70, um Laboratório Multimédia;
b) de outro lado, com Berenice Menegalle, que havia criado a Fundação de Educação Artística de BH (o Oficcina nasceu ali dentro e é uma extensão da instituição), que por sua vez já sofrera nas pesquisas de iniciação e formação musical as influências do músico e compositor Koellreutter (que difundira no Brasil o experimentalismo e o caráter de laboratório de criação);
c) o trabalho corporal de Mônica Ribeiro, voltado para um espaço entre dança e teatro, configurando uma energética pulsional do movimento, uma rítmica que formou as bases do treinamento do grupo;
d) a dimensão musical acurada e associada a uma enorme sensibilidade plástica (Ione sempre estudou artistas plásticos junto com o grupo para suas montagens, sem falar na pesquisa e design de objetos de cena, cenário e figurinos).
E o que mais?
Melhor é ler o livro.
Referências e outras informações:
MEDEIROS, Ione. Grupo Ofcicina Multimédia: 30 anos de integração das Artes no Teatro. Belo Horizone: I.T. Medeiros, 2007.
Imagem: Espetáculo Acusação – foto de Glênio Campregher
E-mail: contato@oficcinamultimedia.com.br
Uma resposta em “Oficcina Multimédia: 30 anos”
[…] E mais uma vez, o projeto mostra a cara no evento de abertura. Na primeira edição, contou com uma instalação de Rubens Espírito Santo, exposição de objetos QuasiArte e uma performance com Ricardo Aleixo e Rui Moreira. O caráter heterogêneo, performativo e aberto marcando, portanto, o projeto. A segunda edição ampliou parcerias e conjuntos, incluindo novos espaços da cidade, incluindo instalações artísticas no Parque Municipal. A terceira já trouxe um desfile de moda, idealizado por Ronaldo Fraga, mas também de caráter performativo e irreverente. Desta vez, já na quarta edição, Verão Arte abre com instalações e um espetáculo híbrido, misturando música, movimento performático e, mais uma vez, um desfile de modas. A qualidade musical do evento foi marcante, estabelecendo contrapontos e diálogos com as performances. Ione Medeiros traz no bojo de seus projetos e idealizações, juntamente com seus parceiros e parceiras do Oficcina Multimédia, os traços dadaístas e bauhausianos que marcaram suas trajetórias (veja o posto sobre os 30 anos do Oficcina). […]