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Intervenção urbana: violência, arrogância e despreparo da Guarda Municipal

Leandro Lara e Sitaram Costa em Olho da Rua

 

As ruas têm dono

Não bastasse a última postagem, intitulada  de A criminalização da cultura das ruas, em Belo Horizonte, temos de denunciar o modo como a Guarda Municipal trata artistas e pessoas comuns (pois, como poderão ver, é disso que se trata afinal). Os performadores da intervenção urbana Olho da Rua foram tratados com arrogância e violência, como relato a seguir.

Uma coisa é certa: as ruas têm dono. E todo cuidado é pouco, pois ele costuma primeiro bater, para depois perguntar.

Desterritorializações no asfalto e calçadas

A intervenção urbana Olho da Rua opera numa interface entre teatro físico e performance. Três aspectos principais podem ser destacados: a ressignificação dos espaços públicos, os estados corporais e o diálogo possível com as pessoas, objetos, presenças e arquitetura urbana. Utilizamos elementos de composição no instante e imagens-partituras trazidas para serem desterritorializadas no asfalto e calçadas. Exploramos uma zona de indeterminação entre o “corpo artista” e o “corpo comum” do transeunte. A expressão “olho da rua” é o motivo e a guia da ação: tanto no sentido dos “olhares da rua”, de seus múltiplos e rizomáticos enfoques, quanto no sentido de ser atirado na rua. 

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A criminalização da cultura das ruas

Imagem: Rafael Lage

 

“Queremos devolver o poder às pessoas como coletividade. Queremos
resgatar as ruas.”
– RTS de Toronto

Naomi Klein, no livro intitulado Sem Logo – a tirania das marcas em um planeta vendido (Record, 2002), e do qual foi retirada a citação acima, reserva um capítulo sobre o “Resgate às Ruas”. Na linha de tiro de denúncia e exposição da vida que se faz mercadoria no capitalismo globalizado, a autora aborda as modalidades de uma “ecologia radical na selva urbana”. Os mobilizadores têm, segundo a autora, uma grande admiração pelos Situacionistas e desenvolvem diversas estratégias para a criação de um “espaço não comercializado na cidade”. Instaura-se uma vida compartilhada, uma ação que difere totalmente dos antigos protestos políticos.

Em Belo Horizonte, o movimento “Praia da Estação”, que surgiu em contraofensiva a um decreto municipal proibindo a realização de eventos culturais na Praça da Estação, é um exemplo típico, entre outros, de ações que procuram resgatar o espaço público. Uma ocupação carnavalizada e irônica, sem comandos centrais, criou um novo modo de resistência. Tornou-se um símbolo que une cultura, performatividade e ativismo. 

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Intervenção urbana: “não alimente as esperanças”

Intervenção urbana em terreno oriundo de demolição - autor desconhecido - Belo Horizonte

 

Uma intervenção urbana que logo me chamou a atenção. O autor (individual ou coletivo) teve uma sacada genial: remete à expressão “não alimente as esperanças” e ao mesmo tempo à literalidade de uma cerca, tal como no zoológico, quando os avisos pedem para “não alimentar” os animais. Na minha leitura, a imagem joga com as transformações da vida urbana (no caso, a demolição e as obras públicas no local), sempre em função dos automóveis. Seria uma ironia diante dos processos de modernização? Não alimente as esperanças… A intervenção em tela ocorre nas cercas de um terreno oriundo de uma demolição, para resolver as vias de transporte de veículos, no bairro Cidade Jardim, em Belo Horizonte. No outro aspecto, remete à questão existencial e também política, que conecta com a primeira. Poesia pura. 

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Intervalo, respiro, pequenos deslocamentos: ações poéticas do Poro

O Poro, formado por Brígida Campbell e Marcelo Terça-Nada, está lançando seu livro. A dupla de intervenção urbana registra em imagens e textos o percurso e o embate de sua poética. De minha parte, a alegria torna-se maior por ter escrito, juntamente com Daniel Toledo, um dos artigos. Escreveram também: André Brasil, Anderson Almeida, Daniela Labra, André Mesquita, Ricardo Aleixo, Renata Marques com Welington Cançado e Newton Goto.

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Um corpo que faz mapa: iluminações avulsas I

 

 

 

 

 

 

Como o corpo se faz num fenômeno de borda e produz uma cartografia?

Há corpos que não passaram por qualquer formação artística e que, no entanto, vivem estados de poesia. Estão fora dos regimes de significação habituais, constituindo antes fenômenos de borda.

Vejo um senhor negro que aguarda no ponto de ônibus, logo na subida da favela. É começo de noite e as pessoas se deslocam pesadas, de volta do trabalho para casa. O  homem que observo é pobre. Porém, ele  se veste com dignidade (é preciso dizer disso numa paisagem como a nossa, brasileira): camisa branca e social, calça e sapato. Contudo, percebo logo que seu trajeto não cumpre a função das outras pessoas que posso observar naquele horário, como a volta do trabalho para casa ou qualquer outra, mas está numa borda que eu não consigo definir.