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Filosofia Geral

Estética do afecto: trecho de um artigo de Simon O’Sullivan

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Delphine Seyrig (O ano passado em Marienbad/L'année dernière à Marienbad, Alain Resnais, 1961)

“Como poderia acontecer que, no pensamento sobre a arte, na leitura do objeto de arte, nós acabamos por perder  o que a arte tem de  melhor? Na verdade o que perdemos define a arte: a estética, porque a arte não é um objeto entre outros, pelo menos não um objeto de  conhecimento (ou não apenas um objeto de conhecimento).  Pelo contrário, a arte faz outra coisa. Na verdade, a arte é  precisamente a antítese do conhecimento; funciona contra o que Lyotard chamou uma vez de  ‘fantasias de realidade’ (A condição pós-moderna). Isso quer dizer que a arte pode muito bem fazer parte do mundo  (afinal de contas é uma coisa produzida), mas ao mesmo tempo está à parte do  mundo. E este distanciamento, no entanto, é o que constitui a sua importância.

Neste artigo, quero pensar um pouco sobre este  distanciamento, este ‘excesso’  ou ‘ruptura’  que, como observa  Lyotard, constitui a efetividade da arte  para além da sua existência como um objeto cultural. Eu quero afirmar que este excesso não precisa ser teorizado como um transcendente, podemos antes pensar o poder estético da arte num sentido imanente, através do recurso à noção de afecto.