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Entre contenções: a poética de Eduardo Fukushima

No Zikzira Espaço Ação, pude assistir à dança-performance de Eduardo Fukushima, seguida de debate com ele, Helena Katz e público.

Por que chamo de dança-performance? Porque já é uma dança outra: os movimentos são contidos, com alguns deslocamentos em linha, onde atuam gestos e forças. Falo de uma dança outra porque se trata de pura singularidade. Não se parece com nada.

De minha parte, digo que a performance/dança de Eduardo me retira de todos os lugares convencionais do que se chama dança. De sua expressividade idealizada, dos movimentos que começam sempre pelas pontas e envolvem articulações etc. Daquilo que eu sei – por hábito, por memória – isto é dança!

Fernanda Lippi e André Semenza do Zikzira Teatro Físico, falaram do projeto Solilóquio: das actions de Grotowski, mas que, diferente dele que buscava a Arte como veículo, seriam realizadas diante do público. O Zikzira proporciona, assim, as trilhas para algo que já não é mais dança, que já não é mais teatro…

Helena Katz fez observações e perguntas diretas a Eduardo, a respeito do seu processo de criação. Ele contou-nos um pouco de sua história, dos seus procedimentos criativos, do seu processo de trabalho. Uma história que é uma vida, com seus traços e embates. Helena Katz falou de algo que me chamou muito a atenção: sobre as informações conectadas por hábito, como ocorre não só nos movimentos cotidianos mas, também, no universo da dança, e que Eduardo Fukushima subverte tão bem.

No meio das discussões que acabariam por remeter tais expressividades a um universo pessoal, Marcelo Kraiser, na platéia, lembrou que a arte levava antes a um impessoal. Eduardo cria uma paisagem que pertence somente a ele, sem ser contudo, justamente, da ordem do pessoal.

O que eu vejo na criação de Eduardo Fukushima: se todas as religiões do mundo acabassem – e já acabaram, apenas que elas não sabem disso – ele teria inventado uma: a sua dança. Mas essa seria uma religião que não serviria para ninguém. Somente para ele. E é uma coisa do deserto. Algo do maravilhoso.

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Paola Rettore: dança/performance/vídeo


Imagem: Marcelo Kraiser

O site de Paola Rettore traz imagens e textos de suas performances, incluindo material de outros artistas e teóricos. 

De minha parte, fascinante é o vídeo da criação cênico-corpórea intitulada Desconsiderare II, realizada no Equador: um grupo de mulheres num banheiro masculino, com Paola dançando num plano mais elevado. A performance produz uma atmosfera estranha, sensual e despudorada. Aliás, atmosfera é o termo que Marcelo Kraiser utiliza para dizer de algo essencial numa cena e performance. Gostei demais. Tudo o que muitas performances frívolas, que se intitulam de arte contemporânea, não conseguem realizar: coragem e poesia de quem faz (na próxima postagem eu falo sobre esse assunto).

 

 

Momentum: a composição no instante


Momentum – a composição no instante – acontece no Teatro Marília (BH), de 05 a 09 de Agosto, às 20 horas. A entrada é franca. A curadoria é de Dudude Herrmann.

O projeto tem no blog Converse: Arte Expandida o espaço no qual público, criadores, editores, consultores e curadores publicam textos e notícias sobre criações híbridas, intervenções urbanas, improvisação como lugar de indeterminação e experimentação das linguagens artísticas.

A cada dia de apresentação, um trio de bailarinos/atuantes que nunca trabalharam entre si arriscam diante do público, no procedimento de criação
instant compostion (composição no instante).

A coisa é instigante: um espetáculo/encontro único – uma configuração que não se repete.

Se eu fosse você pegava o seu lugar:

Dia 05/08: André Lage, Andréa Ainhaia e Peter Lavrati
Dia 06/08: Tuca Pinheiro, Patrícia Siqueira e Rodrigo Quik

Dia 07/08: Bruno Bizzoto, Fábio Dornas e Rodrigo Campos

Dia 08/08: Cristiano Bacelar, Maurício Leonard eTana Guimarães
Dia 09/08: Retorno da Diferença

Momentum está na sua terceira edição. E a novidade desta é que no último dia acontece o Retorno da Diferença – no qual todos os bailarinos/atuantes voltam, incluindo os que participaram das outras edições, para um espaço mais flutuante, com riscos diversos e discussões, envolvendo o público também.

Veja também:
Quik Cia de Dança
Movasse
i Dança
Giovane Aguiar

Fábrica de sentidos: blog de Fabrícia Martins

Do blog de Fabrícia Martins, um texto sobre um Festival de Artes de Paris, ocorrido em Novembro de 2007, em que ela relata três peças muito interessantes:

“Greve no sistema de transporte público, movimentos sociais, manifestações nas ruas e nas universidades. A temperatura pode chegar a –1°c. Em meio a tudo isso, vários dispositivos cênicos vêm se juntar às reflexões sobre modos de ver e de fazer «Arte» – em pauta por aqui nesse momento. Estamos falando do Festival «Les Inaccoutumés – Objet Chorégraphique Contemporain» na Ménagerie de Verre (www.menagerie-de-verre.org), que conta com 12 espetáculos e 25 noites dedicadas à dança e ao «Festival d’Automne» (www.festival-automne.com) que se espalha por teatros, salas de concerto, bares e cinemas. Esse último, na sua 36° edição, teve seu início no dia 13 de setembro e se estende até ao dia 22 de dezembro abrangendo artes visuais, música, teatro, dança, performances, poesia e cinema.”

Leia o texto completo

Conheci Fabrícia em Belo Horizonte, quando partilhamos momentos no Curso de Artes Cênicas da Escola de Belas Artes/UFMG. Eu, um cara que buscava outra coisa que não mais o teatro dramático, ela uma bailarina com uma trajetória de dedicações, sutilezas e texturas, também em busca de outra dança.

Fabrícia está na França dedicando-se à dança experimental. O seu blog, sobre o qual ela mesma me disse, é tanto um meio de expor e pensar pesquisas em dança quanto um modo de aproximar-se das pessoas. Afinal, de arte e de bons encontros – é disso que necessitamos para atravessar um tempo deste maravilhoso planeta.

Site de Katie Duck: dança improvisacional

Katie Duck, performer de dança improvisacional e coréografa colocou no ar seu novo site. Katie esteve no Brasil em diversas ocasiões ministrando oficinas de improvisação e composição. No site há textos que abordam desde aspectos da história da dança contemporânea, na conexão Reino Unido/EUA, até informações sobre os procedimentos compositivos de Katie Duck. Chamo a atenção, particularmente, para um vídeo em que ela dança uma suite de Bach: sobriedade de linhas e precisão.

Alguns podem pensar que os procedimentos compositivos de dança pesquisados por Duck são utilizáveis somente em dança – grande engano. Até porque, numa perspectiva de obras híbridas e espaços entre, não se trata mais de pensar em linguagens isoladas. São poéticas do movimento-corpo-som-imagem.

Para as minhas pesquisas de treinamento em e como criação, extraio dos toques de Katie, dois procedimentos básicos, entre outros: a) aprender a compor através do sair, do deixar, do retirar-se do jogo cênico; b) a distinção entre escolha (choice) e acaso (chance). Não se trata de regras e improvisação – porque, aqui, estamos não no campo da estrutura, mas das forças em interação. São procedimentos técnicos que impulsionam os peformers da criação corpórea a um exercício sóbrio e livre ao mesmo tempo. A precisão é o intervalo de uma velocidade e não uma coisa dada e conferida por alguma autoridade (estética ou que seja).

A utilização de acasos (ecos de Cage) aparece, ainda, como ferramenta importante para a improvisação. No entanto, em busca da mudança, que é necessária, passamos a fazer escolhas sem a criação de um plano de imanência: um plano de escuta do espaço da atuação. Por outro lado, Duck mostra que, paradoxalmente, somente podemos ter acesso aos acasos através de escolhas. Mas, ainda, trata-se de perceber o que está emergindo no campo.

E no caso de compor com a saída, este é um exercício de grandes potencialidades. Os performers aprendem o desapego e, o que é vital, o retorno para o vazio.