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Playing for Change: músicos de todo o mundo

O projeto Playing for Change: Peace Throught Music é contagiante. Foi criado pelo engenheiro de som novaiorquino, Mark Johnson, que decidiu viajar pelo mundo e entrar em contato com músicos de rua de vários lugares, gravando uma mesma música. A idéia é a de que a música transcende barreiras e por isso pode promover a paz.  

Numa conversa com Gil Amâncio, músico, performer e arte-educador, expressei a minha visão um pouco ambígua: tanto me deixava contagiar pela emoção dos músicos e da música, quanto me perguntava se não estávamos diante de um projeto “globalizante”.  Lembramos de We are the World, quando artistas da música pop realizaram a ação USA for Africa. Não tanto pelas críticas relativas ao dinheiro (alguns dizem que o dinheiro foi entregue aos governos e não às populações), mais pelo sistema de artistas globais que dão o tom de “caridade”.

De fato, são projetos completamente diferentes. No entanto, como pondera meu amigo, se Play for Change tem esse ar, isso se deve mais por tocarem e cantarem músicas pop. Diferente em vários sentidos da outra ação, esta tem a característica, e o grande mérito, de dar expressão aos músicos de rua dos mais diversos lugares, pessoas que de um modo ou de outro estão fora dos circuitos espetaculares e de mercado. Sim, Mark Johnson fez essa viagem pelo mundo, buscando artistas, sendo que podemos vê-los e ouví-los como são, onde estão. Além disso, lembra-me Gil Amâncio, cada um canta à sua maneira, não havendo uma pasteurização. Entendo que este um projeto que pode desenvolver-se mais ainda, a partir dessa abertura.

Por isso publico esse post, mesmo sabendo que essas imagens e sons já estão bastante difundidas e comentadas na internet. No sentido de celebrar a diversidade das culturas, mesmo que cada estejamos diante de um fenômeno pop e internacional. O que se busca é a integração. Um volta às totalizações, ao único e ao mesmo? Mais um discurso pela paz procurando envolver o mundo com um bruma de amor, quando a violência é inerente à própria globalização? Pois não há, nessa representação musical, uma tentativa ingênua de esconder a perversão do presente, por um viés universalizante?

Quando músicos de rua e das mais distantes regiões se ouvem e se expressam juntos coisas acontecem. Há o lance de não corresponder aos modelos de circulação espetacular. Surge a possibilidade de outros agenciamentos expressivos, portanto. Porém, parece que o contexto volta a atuar, a sobrepor às fugas os lugares comuns de palco, cd etc. Estou falando precisamente de algo que poderia criar outros modos de se encontrar, utilizando a conectividade das redes. Enfim, da invenção de novas práticas sociais através da música.

O capitalismo, pela lógica que lhe é própria, só pode subtrair da vida os encontros e as singularidades. Quando artistas  não (re)conhecidos pelo sistema de arte entram em contato, algo dessa energia subtraída pode ser retomada. Há um princípio de conectividade nisso. Uma força da multidão.

De todo jeito, é bonito de se ver e de se ouvir: gente de todos dos lugares cantando juntos. Mais do que mais um discurso pela paz, quando o mundo continua o mesmo, uma promessa de diversidade.

Mais referências –

Veja o site de Playing for Change

Por Luiz Carlos Garrocho

Um aprendiz do sensível. Professor, pesquisador e diretor de teatro. Filósofo.

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