Arte como atitude

Não vou discutir o que é arte – seria gastar meu e seu tempo lustrando ossos de ofícios que procuram antes preservar status e vaidades. Mas a arte não se separa de suas funções. Uma delas, é a que procura restituir uma ordem que a vida não possui. Outro modo de funcionar parte de um movimento contrário: desmancha fronteiras, desterritorializa posições, arranca as proteções que a arte assume diante de uma vida incerta, efêmera.

Não há um modo melhor ou pior de arte. Cada um deles produz um agenciamento maquínico: são forças desejantes.

Ricardo Júnior, parceiro de criações e deambulações de estética e filosofia, diz que importa é que cada um habite um mundo, uma paisagem. Um relativismo radical, portanto, já que não há uma crítica que julgue qual mundo é melhor para se viver. A questão pode ser: aposte no seu desejo, experimente.

A arte como obra acabada é um desejo de permanência. Já uma arte como atitude desenvolve-se por outros procedimentos: working in progress. Vide o libro que Renato Cohen nos legou:Working in progress na cena contemporânea. Não é uma recusa da arte como obra (pois a obra recusa tudo o que a torna instável), mas um modo de se criar um meio perecível, processual e sem fechamento, para o acolhimento da obra.

Outras paisagens. Outras poéticas. Outros desejos.

Por Luiz Carlos Garrocho

Um aprendiz do sensível. Professor, pesquisador e diretor de teatro. Filósofo.

Uma resposta em “Arte como atitude”

Garrocho, seu blog traz questões relevantes e provocantes apresentadas com a elegância de uma escrita potente e convidativa.

Acredito/aposto em uma arte em devir evocando as forças de um por vir, o por vir da arte, que não acontece em outro mundo, que não o nosso, em outra Vida, que não a nossa, nesta Vida, neste tempo, dotada que é de uma ubiqüidade, imanente e não trascendental. Por estes motivos trata-se de uma arte engajada, “uma aposta no seu desejo”, e ao mesmo tempo leve, que se conecta ao cotidiano e daí tira/põe/cria, evocando sensações e compondo sentidos. Penso também que a arte tem mais compromissos com a geografia do que com a história. Faz história, constitui obra, mas por povoação e contágio, e não por obrigação. Obra aberta e inacabda, rizomática e “en_fresta_da”. Neste ponto cabe o alerta de não confundirmos atitude com altitude, erro recorrente em outros campos, que não apenas o da arte.

Abraço forte!

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