Categorias
Arte e Cultura Geral Literatura

Um guarda-chuva no caos: D. H. Lawrence

tomas rotger 5
Imagem: Tomás Rotger

“A poesia, dizem, é uma questão de palavras. E é verdade, tanto quanto a pintura é uma questão de tinta e o afresco, uma questão de água e ocra. Mas isso está tão longe de ser toda a verdade que soa um tanto simplista quando dito secamente.

A poesia é uma questão de palavras. A poesia consiste em combinar palavras para fazê-las ondular e vibrar e colorir. A poesia é um jogo de imagens. A poesia é a iridescente sugestão de um idéia. A poesia é todas essas coisas e, contudo, é algo mais. […]

A qualidade essencial da poesia consiste em que ela exige um esforço renovado da atenção, e que “descobre” um mundo novo no interior do mundo conhecido. O homem, e os animais, e as flores, vivem todos dentro de um caos estranho e permanentemente revolto. Chamamos cosmo ao caos ao qual nos acostumamos. Chamamos consciência – e mente, e também civilização –  ao indizível caos interior de que somos compostos. Mas trata-se, em última instância, do caos, iluminado por visões, ou não iluminado por visões. Exatamente como o arco-íris pode ou não iluminar a tempestade. E, tal como o arco-íris, a visão perece.

Categorias
Arte e Cultura Geral Zonas Experimentais [ZnEx]

Perpendicular: intervenção artística no entorno do museu

flyer PERPENDICULARMUSEU.png1

O Museu Inimá de Paula (Belo Horizonte) lança o projeto Perpendicular: ações para museu. O projeto consiste na realização de intervenções artísticas no espaço urbano, mais precisamente, nas ruas que cirundam o museu. Segundo nota de divulgação, o evento terá três horas de duração, acontecendo no dia 28 de outubro, quarta-feira, às 19 horas.

Observamos que as diversas instituições se abrem cada vez mais para ações desse tipo, instaurando zonas de experimentação [ZnExs] em arte. O que desejamos é que surja, afinal, uma rede de ações permanentes, com investimentos voltados à sustentabilidade da arte da performance em Belo Horizonte. A iniciativa do Museu Inimá de Paula merece o nosso aplauso. Ao lado de outras ações que não têm caráter institucional, consolida-se uma vocação e uma ocupação criativa da cidade. Rompe-se, desse modo, o círculo do conservadorismo. Habitar a cidade passa a ser uma atitude estética. Alguns artistas e coletivos de criação, como o Poro por exemplo, poderiam acrescentar: uma dimensão política também (mas no sentido de uma micropolítica).

Categorias
Artes Cênicas Geral

Fid 2009

FID 2009 - Fórum Internacional de Dança_1256128088287

O Fórum Internacional de Dança (Fid) edição 2009 está em cartaz. O projeto já esteve circulando com espetáculos na região metropolitana de Belo Horizonte, inaugurou ontem (20.10) suas novas etapas: Território Minas, Conexão Internacional e Fidinho (até 1.11).

“O FID, em seus 13 anos de existência e de constante transformação e continuidade, vem sendo um dos mais importantes Programas de Fomento à Dança no Brasil. Trata-se com certeza de um Programa ímpar e singular por sua ação e perfil artístico transversal e transdisciplinar. Por esses motivos, o FID se firmou como essencial e absolutamente indispensável para o desenvolvimento e manutenção da qualidade da dança e da cultura de e em Minas Gerais e no Brasil.” (texto de apresentação do site oficial).

Adriana Banana e Carla Lobo criaram um espaço para a mostra e o pensamento em dança contemporânea, sempre trazendo temas e conexões provocadores e consistentes, além de consolidar um projeto que tem sido importante também para a formação de público, pesquisa e criação. O projeto deixou de ser um festival para se integrar à vida da cidade como fórum, com programas de fomento à dança e seu pensamento.

Programação Território Minas

Programação Conexão Internacional

Programação Fidinho

Categorias
Filosofia Geral

Estética do afecto: trecho de um artigo de Simon O’Sullivan

delphine-seyrig
Delphine Seyrig (O ano passado em Marienbad/L'année dernière à Marienbad, Alain Resnais, 1961)

“Como poderia acontecer que, no pensamento sobre a arte, na leitura do objeto de arte, nós acabamos por perder  o que a arte tem de  melhor? Na verdade o que perdemos define a arte: a estética, porque a arte não é um objeto entre outros, pelo menos não um objeto de  conhecimento (ou não apenas um objeto de conhecimento).  Pelo contrário, a arte faz outra coisa. Na verdade, a arte é  precisamente a antítese do conhecimento; funciona contra o que Lyotard chamou uma vez de  ‘fantasias de realidade’ (A condição pós-moderna). Isso quer dizer que a arte pode muito bem fazer parte do mundo  (afinal de contas é uma coisa produzida), mas ao mesmo tempo está à parte do  mundo. E este distanciamento, no entanto, é o que constitui a sua importância.

Neste artigo, quero pensar um pouco sobre este  distanciamento, este ‘excesso’  ou ‘ruptura’  que, como observa  Lyotard, constitui a efetividade da arte  para além da sua existência como um objeto cultural. Eu quero afirmar que este excesso não precisa ser teorizado como um transcendente, podemos antes pensar o poder estético da arte num sentido imanente, através do recurso à noção de afecto.