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A fala errante: Blanchot

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Imagem de Tomas Rotger

“Devemos, em primeiro lugar, tentar reunir alguns dos traços que a abordagem do espaço literário permitiu-nos reconhecer. Aí, a palavra não é um poder, não é o poder de dizer. Não está disponível, de nada dispomos dela. Nunca é a linguagem que eu falo.  Nela, jamais falo, jamais me dirijo a ti e jamais te interpelo. Todos esses traços são de forma negativa. Mas essa negação somente mascara o fato mais essencial de que, nessa linguagem, tudo retorna à afirmação, que o que nega nela afirma-se. É que  ela fala como ausência. Onde não fala, já fala: quando cessa, persevera. Não é silenciosa porque, precisamente, o silêncio fala-se nela.  O próprio da fala habitual é que ouví-la faz parte de sua natureza. Mas, nesse ponto do espaço literário, a linguagem é sem se ouvir. Daí o risco da função poética. O poeta é aquele que ouve uma linguagem sem entendimento.

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Eterno retorno, múltiplo e acaso

Imagem: Tomas Rotge

“O eterno retorno é potência de afirmar, mas ele afirma tudo do múltiplo, tudo do diferente, tudo do acaso, salvo o que os subordina  ao Uno, ao Mesmo, à necessidade, salvo o Uno, o Mesmo e o Necessário. Do Uno, diz-se que ele subordinou o múltiplo uma vez por todas. E não é a face da morte? Mas não é a outra face, a de fazer desaparecer uma vez por todas tudo o que opera uma vez por todas? Se o eterno retorno está em relação essencial com a morte, é porque promove e implica “uma vez por todas” a morte do que é uno. Se ele está em relação essencial com o futuro, é porque o futuro é o desdobramento e a explicação do múltiplo, do diferente, do fortuito por si mesmos e “para todas as vezes.